ENTRANDO EM DEPRESSÃO

Hoje quase escrevo outro capítulo da série Desejos de um Serial Killer, mas resolvi perdoar...

O homem teve boa fé...

Resolvi conferir minha carteira de vacinações do SUS.

Isso mesmo.

Olhar a validade da BCG, da tríplice, coqueluche, Sabin, malária, febre amarela e...

Epa! Epa! Epa!

A vacina antitetânica estava vencida.

Como sou dado a “chutar o balde” e em casa ainda há baldes de lata, posso me cortar.

Depois há o risco de chafurdar os pés nos cocôs dos cachorrinhos de madama. Há umas toras pelas calçadas da Vila Mariana, um bairro classe B (sem interatividade – é B mesmo) da cidade de St. Paul e entrar um pedacinho de substância orgânica numa das frieiras.

Ai, que nojo!

Verdade!

Essas coisas acontecem.

Vira tétano.

Igual a um machucadinho que para virar uma infecção hospitalar generalizada é um pulinho.

Ou uma gripinha se tornar uma pneumonia, então...

E o que acontece com velho quando pega pneumonia?

Morre!!!

Vira minuto de silêncio no torneio de dominó da praça.

Olhei toda a documentação do inventário, conferi se tinha pago as contas da semana, li o jornal até o final e lá fui eu...

Todo corajoso ao posto de saúde.

Umas cinco paradas em bancas de jornal, na lotérica, no mercado, no um e noventa e nove e cheguei fagueiro e sem mais desculpas para não tomar a terrível injeção que iria penetrar até o cerne de meus músculos do braço, numa dolorosa cirurgia de dois segundos, sem anestesia.

“Por favor, verifique se minhas vacinas estão atualizadas.”

“O senhor tem que tomar a antitetânica”, respondeu gentil o atendente.

Poxa, finalmente entro num acordo com o atendimento de uma repartição pública.

“Só aguardar!”

Instantes após, chama-me ao guichê e pergunta-me:

“O senhor tomou a vacina da gripe? Houve campanha para a terceira idade”.

Olhei firmemente para o homem, ericei os pelos, preparei-me para o bote onde o degolaria atacando-lhe a jugular.

Por essas obras do acaso, felizmente, atrás dele havia um espelho.

Como não sou vampiro, pude ver minha imagem refletida (óbvio, ó pá) e...

“Caramba, como estou acabado!”

Ele pensou que eu já tivesse sessenta anos.

Conformei-me, tomei a antitetânica e assim que terminar as aplicações de bolsa de gelo para a dor, que ainda não chegou, mas chegará, passarei a me concentrar para não entrar nos antidepressivos outra vez...

Ele pensou que eu já tivesse sessenta...

E ainda faltam...

Deixe-me contar...

Só isso?

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http://apostolosdepedro.blogspot.com

Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 19/05/2008
Reeditado em 19/05/2008
Código do texto: T996509
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