VELHO... VELHA...

VELHO...VELHA...

do livro FOLHAS SOLTAS - no prelo

(Discurso proferido por ocasião do 2º Congresso dos Aposentados e Pensionistas do Paraná, na FECIVEL, no ano de 1988, patrocinado pelo SINDEC-CASCAVEL)

Velho... Velha... Assim o mundo chama vocês.

E diz para que todos ouçam: teu tempo passou. Você envelheceu. Está superado!

E vem o abandono da vida. O abandono de tudo. Aí, vem a desesperança.

Assim estavam os velhos, os aposentados, os pensionistas do meu Brasil. Eis que surge uma idéia: a união em torno das mesmas necessidades, para a mesma luta, para os mesmos sonhos outra vez.

E surgem as associações. E surgem as Federações. A Confederação.

E surge a luta sem trégua sobre os Constituintes e, aos gritos, gritos roucos, os velhos lutando por melhores dias, pela composição dos seus ganhos, depois de uma vida inteira de trabalho, de terem colocado o mundo os melhores doutores, os melhores professores, os melhores sindicalistas, jornalistas, jogadores de futebol ou fazedores de jogo do bicho.

Aí, sim, o velho que se sentia desprezado e inútil, viu que ainda tinha forças para a luta e para as grandes vitórias, como o foi na luta na Constituinte e o texto aprovado, em benefício de milhões de almas que sentiram um novo alento para viver.

Hoje, mais uma vez, o velho dá de si e prova que ainda está vivo. Prova que está na luta de sempre, sem se sentir um restolho da sociedade onde vive e certo de que os seus valores serão cada vez mais reconhecidos pelos jovens.

Que Deus ilumine os caminhos dos velhos porque, quando chegarmos lá, aonde eles já chegaram, os caminhos não sejam tão difíceis como foram os deles.

Obrigado, Velho, por preparar a nossa caminhada futura. Obrigado a todos quantos lutaram para que a vergonha nacional do ganho dos aposentados e pensionistas fosse refeita com a nova Constituição.

Acabou-se a vergonha.

Começa a gora a esperança de se viver em paz por mais algum tempo que Deus haverá de permitir a todos.

Que este Congresso seja coroado do mais pleno êxito e que se busquem mais soluções para os nossos problemas nacionais, na constante vigília agora, quando da feitura de mais de duzentas leis ordinárias que irão gerir a nova Constituição Brasileira.

...

1988... 2006.

Hoje, remexendo meus arquivos, encontro este pronunciamento que fiz naquele Congresso e me pergunto: do quê adiantou? Do quê adiantou tanta luta se vejo hoje os idosos sem forças para lutar contra o achatamento do seu ganho - e agora bem pior que no passado -, sabendo que quem ganhava o equivalente a dez salários mínimos, hoje não ganha nem a metade do que a ganhar.

Aí está o idoso, aquele que ainda sonha. Velho apenas dorme!

Na época eu era mais jovem. Lutei pelos idosos.

Hoje, sou idoso. Quem lutará por mim...?

DONATO RAMOS
Enviado por DONATO RAMOS em 19/05/2008
Código do texto: T995913