Gerais de Minas
Naquele lugar distante, viviam mamãe, uma tia e eu.
No Gerais das folhas secas e dos riachos das águas mortas
Lavar roupa na vereda, a lata d’água na cabeça, a rodilha,
é só uma lembrança.
A seca que assolou a região foi longa e impiedosa.
Era uma vida sofrida, mamãe era pai e mãe, só ela era quem provia. Pouco tempo depois perdi a minha tia, mamãe sentiu-se órfã.
Se assim pode-se dizer, eram carne e unha.
As coisas pioraram de tal forma, mudar pra cidade, buscar melhora, era assunto de toda hora.
Sinto saudades daquela vida de quase nada, onde muito pouco se fazia. Eu brincava pelo campo, catava frutos aqui e acolá,
que era pra ajudar na despesa.
Cuidava das galinhas, umas poucas que tinha.
O Gerais das folhas secas e dos riachos das águas mortas traz-me saudades. Eu me criei, estudei, consegui um espaço, foi às duras penas, mas consegui.
Volta e meia eu pegava minha mãe cabisbaixa, a choramingar pelos cantos. Cansada, a coitada estava que não agüentava. Era uma dor na alma, era saudade do Gerais.
A vida na cidade é uma eterna labuta, mamãe idosa, ainda assim estava na luta. Por vezes pensei em juntar o pouco que tínhamos e voltar, fazer de volta o caminho do Gerais.
Pensava em montar um negócio, um comércio, quem sabe,
mas o Gerais é tão pobre! Voltar seria um retrocesso.
Herdei a força de minha mãe, mas era preciso ponderar.
Sofri muito, passei noites em claro em busca de uma decisão.
Mamãe assentava na soleira da porta, e deliciosamente saboreava seu cigarro de palha, planejava sua volta ao seu Gerais querido.
Com o tempo percebi o delírio naquele olhar melancólico.
Aquela geraizeira forte, havia perdido a razão.
- Venha mamãe, venha se deitar, pois amanhã bem cedo vamos de volta pra lá.