De cometas e “Cometas”

– Você viu o Halley?
Esta pergunta foi feita inúmeras vezes por milhões e milhões de pessoas em todo o mundo, nas mais diversas línguas. Fundamentava-se na expectativa alimentada nas últimas décadas pelo reaparecimento daquele cometa que não é o maior, não é o mais bonito, mas é o mais discutido de todos os cometas de que se tem notícia.
Geralmente o que se ouvia em resposta era um frustrante “não”. Frustrante e frustrado. Mas, olhando por uma outra ótica, será que já não vimos outros Halleys em nossa vida? Quantos e quantos “cometas” não existiram ou passaram em todos os ramos das atividades humanas? Nosso cotidiano está repleto desses humanos astros errantes.
Nós conhecemos ou já ouvimos falar em pessoas com “carreira meteórica”, se bem que a analogia seja inversa, pois, enquanto sua carreira e seu prestígio sobem, o meteoro cai.
Pessoas há que passam a vida sem aparecer, ficam na Nuvem de Oort - formadora potencial de cometas -, à espera da interferência de alguma estrela que os empurre de encontro ao sol, e, assim, sejam notados, E aí há aqueles que literalmente se eliminam numa rota de colisão e outros que, politicamente, passam ao largo, circundam e utilizam a luz daquele astro para aparecerem com uma bela imagem, quando interiormente são “um monte de poeira”.
Muitos se comportam na vida como os cometas jupiterianos, entrando em evidência com muita freqüência sem, no entanto, brilharem o suficiente para serem notados. E com isso se desgastam rapidamente.
Outros há, coitados, que, à semelhança do Halley em 1986 - previsível - ou do Kohoutek em 1973 - desconhecido -, são ofuscados pela luz e a poeira de todos os problemas a que está afeta a humanidade, e não serão mais que um pontinho interessante.
É necessário, em alguns casos, passar bem perto, bem evidente, e marcar sua presença pelo temor que sua proximidade causa, a exemplo do mesmo Halley em 1910, para que se dê importância ao que se é, e não ao que se parece.
Portanto, analise, perscrute, abstraia-se e responda a esta pergunta:
– Você já viu o Halley?

junho/1986