O LARÁPIO TRAPALHÃO
Hoje, sexta-feira, pela manhã, eu resolvi ir até ao Shopping Lapa para fazer algumas compras e pagar algumas contas. Embarquei em um ônibus com destino à Estação da Lapa, sentei-me à cadeira ao lado oposto do motorista, exatamente no meio do coletivo.
Durante a viagem o coletivo foi enchendo de passageiros, chegando a ponto de muitos deles ficarem em pé. Ao meu lado estava um rapaz, alto, magro, sarara, aparentando ter uns 20 anos, mostrando-se bastante inquieto com aparencia de nervosísimo. Ele segurava com a mão direita o corrimão superior do ônibus e com a mão esquerda uma sacola branca plástica estampada com propaganda de loja que com o balanço do ônibus tocava em meu rosto. Vendo o desconforto em que o jovem se encontrava, então, pedi ao moço para segurar a sua sacola, a fim dele ficar mais confortável. Quando cheguei ao destino, isto é, na Estação da Lapa, não vi mais o rapaz dentro do ônibus para devolver a sua sacola. Fiquei bastante preocupado e penalizado por ele haver saltado do ônibus e deixado a sua sacola em meu poder. Desembarquei do ônibus e como um bom cidadão, pensei em deixar a sacola no Posto Policial que fica localizado no térreo da Estação. No entanto, imaginando a recepção enfadonha, as indagações desnecessárias, a burocracia e a perda de tempo com os policiais. Então, mudei de idéia, tomando a decisão de verificar o conteúdo da sacola e a possbilidade de achar uma pista que me levasse a identificar o seu verdadeiro dono.
Ao revistar a sacola encontrei uma Bíblia, uma sombrinha estampada, uma bolsa feminina e dentro dela uma bolsinha de moedas contendo algumas delas, uma carteira com dois cartões de créditos, receitas médicas, uma caixa de remédio, uma pequena agenda com diversos números de telefones.
Ao folhear a primeira página da agenda encontrei o nome de uma senhora chamada Helena, com o número de telefone e endereço do bairro de Liberdade. Então, fui até um telefone público e telefonei para a residência da referida senhora, dizendo:
-Alo, Bom dia, desejaria falar com D. Helena?
-Bom dia! É ela em pessoa, quem fala! O quê o senhor deseja?
- Aqui quem fala é o senhor Everaldo. Eu desejo informar a senhora que estou com a sua sacola e lhe desejo entrega-lá. Eu estou aqui na Estação da Lapa. Ocorreu que seu filho desceu do ônibus e deixou em minhas mãos a sua sacola com seus pertences.
-Não! Não, meu filho! Ele está no trabalho. Ele é o Silvio. Eu fui roubada no Plano Inclinado. Como Deus é bom!... Eu tinha fé que essa sacola voltaria para as minhas mãos. Eu orei pedindo a Deus que essa sacola voltasse para as minhas mãos. Ele ouviu as minhas orações.
-A senhora foi furtada mesmo! Pois, há dentro de sua pequena Bíblia três notas de cem reais, uma sobrinha e uma blusa. A senhora é uma pessoa abençoada. Eu tenho a certeza que Deus ouviu as suas orações. Deus como pai jamais despreza aquelas pessoas que lhe pedem com fé e tem merecimento. Esse larápio é mesmo um trapalhão! Pobre coitado! Quê Deus tenha piedade dele!
-Eu estou muito emocionada. Quê Deus lhe pague meu amigo!... E o dia de hoje é meu aniversário.
- Hoje é aniversário da senhora. Quê bom! Esse foi o presente que Deus lhe deu... Afirmando a sua fé e o seu merecimento.
- É meu amigo. Eu tenho muita fé em Deus. Ele socorre os seus filhos nas horas de necessidades. Ele nunca abondona o seus filhos. Deus sempre atende as minhas orações.
- A senhora mora no endereço que consta na sua agenda, na Liberade.
-Sim, é mesmo neste endereço que está escrito na agenda. Eu moro na Liberdade, próximo ao bairro Guarani.
- Já que a senhora mora na Liberdade, então vamos fazer o seguinte:
-Para facilitar a minha vida e a da senhora, às 15:30h estarei na agência do Bradesco da Calçada, pois eu tenho que descontar um cheque nessa agência. A senhora poderá me aguardar lá, dentro da agência bancária, e será fácil me identificar pela sua sacola.
-Está combinado. Eu aguardarei o senhor lá. Eu desejo lhe conhecer. Eu tenho a plena certeza que o senhor é uma pessoa boa. O senhor é uma pesssoa de Deus. O senhor está nos planos de Deus. Eu te espero lá. Quê Deus te abonçoe!...
Exatamente às 15:35h cheguei a agência bancária da Calçada. Uma senhora com aparência de uns 50 anos, de cor branca, simpática, olhos negros graúdos, de corpo cheinho, de aparência modesta, de cabelos pretos quase grisalhos cortados acima dos ombros, trajando um vestido marrom claro, com a fisionomia contagiada de alegria e felicidades se aproximou de mim, e disse:
- Boa tarde seu Everaldo! Eu sou Helena! Foi uma benção te conhecer...Quê Deus te abençõe...
- Boa tarde D. Helena. Parabéns pelo seu aniversário. Quê Deus lhe dê muitos e muitos anos de vida com saúde e sorte. Está aqui o seu presente de aniversário.
Ela recebeu a sua sacola rindo de contentamento e me disse:
- Obrigada seu Everaldo, que Deus recompense o senhor... A minha casa está as suas ordens. Ela recebeu a sua sacola das minhas mãos, agradecendo-me com felicitações.
- D. Helena, por favor, confira os seus pentences que está dentro da sacola. Ela a revistou e me disse:
- Está tudo aqui, não falta nada.
- Mas uma vez, muito obrigada!... muito obrigada!... Quê Deus te abençoe seu Everaldo.
- É D. Helena sua fé te proteje.
- É meu filho, hoje mesmo, eu vou dá meu testemunho de fé em minha igreja.
Graças à lerdeza e a displicência do larápio trapalhão e as orações de D. Helena, Deus lhe concedeu o merecimento dela conseguir recuperar todos os seus pertences no dia do seu aniversáro. Foi verdade e eu acredito: "A fé tem o poder de remover montanhas"
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