Vestibular

Era o terceiro ano seguido.

- Não fica assim não, a vida é assim mesmo.

Pelo terceiro ano seguido seu nome não estava na lista. Alguns saltavam de alegria em sua volta. Perturbada, continuava a procurar seu nome, como se talvez, pela ansiedade do momento, ela o tivesse pulado. Não queria acreditar. Uma lágrima. - O terceiro ano seguido! - As mãos tremiam. Outros pulavam. Alguns gritavam. Abraçaram-na.

- Medicina é assim mesmo... Já ouvi falar de gente que prestou seis anos seguidos!

Meu Deus! Que vergonha! Mas ela não tinha tirado a nota? Talvez tenha passado alguma errada para o gabarito, quem sabe? Essas coisas são assim mesmo...

Saiu de lá direto para o metrô. Chorava. Dez horas por dia, todo santo dia! Havia adquirido até uma doença em função da pressão neurótica a que se submetera.

- Será que já não estava na hora dela tentar alguma outra coisa... Sei lá, é apenas uma sugestão.

Estava claro que o problema era com ela. Claríssimo! A escola de onde viera não era ruim, muito pelo contrário - dedicação também não a faltava. - Dez horas por dia! E a sua vida ia passando como se fossem estações - estações que não mudavam; estações que apenas se repetiam, se repetiam, se repetiam...

Nervosismo? Pare! Não queria pensar naquele momento. Mas se esse ano já foi assim, certamente o ano que vem seria muito, muito pior. As pessoas não sabiam nem como olhá-la, pois claramente via-se o peso da vergonha em seus olhos. Mais uma vez o Natal seria triste! - por causa dela. Por minha causa! Por minha causa.

- ........

As pessoas no vagão estavam todas silenciosas, o que fez seus soluços – contidos, abafados – ecoar, ao seu ver, por todo o vagão. Pare de chorar! Isso não irá melhorar em nada. Pare de chorar! Pare!

Saiu do metrô. Andava agora pela avenida. Olhou para uma árvore de Natal: ela era grande, do tamanho dela, com grandes bolas espelhadas - vermelhas, azuis, verdes; tendo em si, também, um grande enfeite amarelo que se estendia enrolado por toda a árvore; e no topo, uma grande estrela. Como era bom o tempo em que bastava pedir e ser uma boa garotinha para se ter alguma coisa - às vezes nem boa precisava ser (um sorriso tímido!); mas agora o Natal seria novamente triste, artificial - as pessoas não saberiam como tratá-la, ela mesma não saberia como agir.

Subia o elevador. Pare de chorar! As apostilas espalhadas pelo seu quarto, entre seus bichinhos de pelúcia; resumos importantes colados na parede - por toda a parede. Parou em frente à porta.

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Olhou-a, imóvel, temendo o choque direto com a realidade, com a fria e dura realidade. Por ela, estenderia aquele momento ao máximo possível. Tremia. Respirou fundo. Estava tensa, coitada!

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As mãos suavam; enxugou o rosto; olhou a campainha; criou coragem; a luz se apagou. Voltou para acendê-la. A chave! Como não havia se lembrado? Pegou-a, pô-la na fechadura - com dificuldade -, girou-a, trêmula, e abriu de uma vez só.

Todos voltaram seus olhos para ela.

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Com a alma dilacerada, apenas pronunciou, com muita dificuldade, enquanto corria para os braços da mãe:

- Ah mãe, desculpa... desculpa...

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