SILÊNCIO COMO FORMA DE COMUNICAÇÃO
SILÊNCIO COMO FORMA DE COMUNICAÇÃO
Vencida a enorme timidez da infância e adolescência, superada a opressão familiar machista, passados os tempos de ditadura em que não se podia falar, aprendi o prazer de usar as palavras para dialogar, argumentar, defender, repudiar, protestar, expressar sentimentos e idéias. Aprendi o valor e o poder da palavra, linguagem revelada ou oculta, magia que transmite conhecimentos e dissemina idéias.
Mas existe também o silêncio, de igual valor; tanto valor que existem votos de silêncio, assim como os votos de castidade.
Nas minhas andanças pelo mundo, em contato com as comunidades, percebi os diversos significados do silêncio:
O silêncio de quem tem respeito por quem fala.
O silêncio de quem concorda e comunga com aquele pensamento.
O silêncio de quem não compreende.
O silêncio distante de quem despreza.
O silêncio de quem já tem seus conceitos e preconceitos e se recusa a ouvir.
O silêncio passivo da impotência diante de um fato.
O silêncio da tristeza.
O silêncio do inconformismo.
O silêncio, não a palavra, como forma de protesto.
O silêncio, de difícil interpretação, é usado comumente pelos nossos interlocutores, a população, que nos deixa inseguros quanto à eficácia da nossa comunicação.
É também atributo dos velhos sábios, que aprenderam ao longo da vida, seus vários significados, a hora certa e a importância de silenciar.
Precisamos aprender com os velhos e a comunidade, o exercício do silêncio como forma de comunicação, já que palavras, às vezes, são apenas palavras ao vento…
Lucia Elena Ferreira Leite