NÃO CABEU, PROFESSORA!
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A criança aprende a falar antes de escrever. Primeiro no ambiente familiar, depois no social. Dependendo do nível linguístico empregado nestes ambientes, a criança pode adquirir certos vícios linguísticos dissonantes com a norma que lhe será ensinada e cobrada na escola. Cabe à escola consertar esses defeitos e, para isso, tem de trabalhar os dois lados "da língua", ou seja, a fala e a escrita, com a mesma intensidade e com didáticas corretas. Senão cairá no mesmo caso que, com a devida licença, lhes repasso:
Conta-se que um menino pobre, criado num contexto pobre, foi para a escola e com frequência dizia cabeu no correr de suas conversas. A professora preocupada o corrigia dizendo:
— Não é cabeu, é coube!
O menino repetia coube, mas logo em seguida se distraía e vinha novamente com cabeu. Após certo número de tentativas infrutíferas para corrigir o aluno, a professora o chamou, entregou uma folha de papel e disse:
— Agora vamos ver se você aprende de uma vez por todas. Enquanto os outros vão para o recreio, você fica em sala e escreve cem vezes coube nesta folha.
O aluno muito contrariado começou a escrever. Após certo tempo, havia preenchido a página toda com coube, coube, coube... Entregou para a professora e essa, desconfiada contou quantas vezes o aluno havia escrito. Foram apenas 98. Reclamou, então:
— Eu não mandei você escrever 100 vezes? Você está querendo me enganar? Aqui só tem 98.
O aluno, na maior simplicidade se justificou:
— É que não cabeu na folha, professora. (MORETTO, 2001, p. 69)
A fala desse menino é governada por palavras insubmissas a escrita (replicas do inconsciente) que devem ser corrigidas no próprio ato da fala, caso contrário, coube na escrita e cabeu na conversa.
É ou Noé? ®Sérgio
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Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquercomentário.
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