A Mulher de Jorge

Faleceu nesta tarde (17-05-08) a escritora Zélia Gatai. Viúva do escritor baiano Jorge Amado, autor de inúmeros e belos romances, consagrados e dotados de características peculiares aos ares regionais do nordeste, a escritora que era paulistana (nascida na Capital Paulista), mas baiana de coração e soteropolitana nomeada pelos políticos da cidade de Salvador, pouco teve apreciado pelo público que a considerava mais uma entre milhões de escritores. Fez-se à sombra do segundo marido (Jorge Amado, já que o primeiro esposo um intelectual e membro do Partido Comunista, Aldo Veiga) e seu livro mais vendido (250 mil cópias), “Anarquistas, Graças a Deus” pouco contribuiu para o progresso da literatura brasileira, como o fez as obras de Jorge. Seu engajamento estava na luta contra os regimes ditatoriais.

Zélia foi amiga de grandes escritores mundiais como Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Rubem Braga, Pablo Neruda, Jean Paul-Sartre, Simone de Bevouir, entre tantos. Pelo ambiente intelectualizado e um esposo dono de uma característica típica do regionalismo (tendência da segunda fase do Modernismo), Zélia ganha “status” de escritora e em todas as obras que escrevesse, escritora seria, mas sempre, a esposa de Jorge.

Entrou para a Academia Brasileira de Letras (ABL), que há tempos comete seus absurdos (José Sarney, Ivo Pitanguy, Marco Maciel, Paulo Coelho e a própria Zélia), ocupando a cadeira que era de Jorge. Dizem que nada foi acertado, que os méritos foram ganhos com as obras da paulistana baiana. Tenho lá minhas dúvidas, mas aposto nas palavras que foram escritas e nunca mais serão apagadas. Na “Casa do Rio Vermelho” dormirão as cinzas dessa que se intitulava memorialista e ao lado de Jorge caminharão eternamente, já que esse amor sim, era a verdadeira escrita daquela que foi considerada uma escritora, mas a sombra de Jorge. Morre Zélia, a mulher de Jorge.

Sergio Santanna
Enviado por Sergio Santanna em 17/05/2008
Código do texto: T993896
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