"Mães..." =Crônica do cotidiano=
Enquanto almoçávamos, só eu e ela hoje, minha mãe começou a rememorar casos relacionados à minha avó, à mãe dela. Ia contando os casos e rindo das maluquices senis da velhinha, mas cheia de saudades dela:
- Mamãe às vezes era um caso perdido, filho. Esquecia onde guardava as coisas e ficava sempre achando que alguém levou embora. Depois que achava dizia que haviam devolvido por medo das conseqüências. E não se convencia de modo algum que ninguém mexeu nas coisas dela.
- Sei como é isso...
- E dinheiro? Ela escondia o dinheirinho dela tão bem guardado que depois era duro pra achar. Dava o maior trabalho. Cansei de procurar o dinheiro pra ela.
- Sei como é isso...
- E o dia em que eu chamei a atenção dela por abrir a porta sem saber quem estava batendo? Até hoje eu rio quando me lembro, pois ela me respondeu que não tinha perigo algum porque ela colocava o pé atrás da porta. Já pensou filho, que segurança? Ela, magrinha daquele jeito, miudinha como ela só, segurando a porta com o pé...Com um tranco qualquer um a empurraria longe.
- Sei como é isso...
- De vez em quando ela me dava cada susto, filho. Subia em cadeira pra pegar coisas nos armários, toda independente. Já pensou se ela levasse um tombo naquela idade? Não gosto nem de pensar...
- Sei como é isso...
- Ela tomava os remédios e depois ficava na maior dúvida, me perguntando a toda hora se eu tinha certeza de que ela tomara os remédios que o médico mandou. Até cansava, filho.
- Sei como é isso...
- Só agora é que estou reparando: eu aqui falando feito matraca e você só diz “sei como é isso”, “sei como é isso”...
- É que estou impressionado com a coincidência, mãe.
- Que coincidência, menino? ( Só mãe mesmo pra me chamar de menino...)
- A sua mãe é igualzinha à minha. Sem tirar nem pôr. Nunca vi coisa igual.
A risada que ela deu foi gostosa. Essa minha velhinha...
Ps: Minha mãe leu essa crônica, riu, mas
fez questão que eu dissesse aos possíveis
leitores que ela não é velhinha não. Só é
um pouco idosa...