É DOCE MORRER NO MAR

É DOCE MORRER NO MAR

(do livro FOLHAS SOLTAS)

É doce ser envolvido pela quentura da espuma branca e leve... É doce... É doce...

Caymi não escreveu o poema sentindo. Caymi estava vem acomodado na alvura de sua praia predileta, ao lado do seu violão inseparável...

É doce morrer no mar... sentado na areia quente de um sol de verão. É doce morrer no mar, quando estamos nos deliciando nas pequeníssimas ondas que vêm lembrar carinhos esquecidos ou queridos, insatisfeitos e ternos...

É doce morrer no mar, quando se está sentado na areia da praia e sentindo as espumas que chegam de leve, carinhosamente, lamber-nos os pés descalços e doridos muitas vezes de longa caminhada . Assim, é doce morrer no mar, longe das águas revoltas, longe do desespero, longe da saudade pungente que corta e machuca, longe de tudo e de todos...

É doce morrer no mar quando nada mais se tem a fazer. É doce morrer no mar quando se é livre, quando não se têm obrigações, quando se está em desespero com a própria vida, quando nada mais se quer, além de morrer...

Tornar-se esquecido na imensidão esverdeada de um mundo sem apoio.

É doce morrer no mar quando o mundo nos tenha jogado além de nossas próprias fronteiras...

Mas é amargo morrer no mar, quando se deixa em terra os filhos queridos...

É amargo morrer no mar, entre as ondas revoltas, quando outros corações pulsam em terra, na esperança da volta ao cair da noite, quando o sol se despede de todos os lugares-comuns de diversos e comuns lugares.

É amargo morrer no mar e deixar os filhos à espera, espera angustiante nas horas que vão morrendo...

Na ponta da praia de Itajaí, em Navegantes, os filhos de Sebastião brincam na areia escrevendo o nome papai em letras disformes mas que representam o apoio, a subsistência da vida, a segurança do dia de hoje e de amanhã.

É amargo morrer no mar assim, sabendo que alguém fica à espera na beira da praia. Assim, não é doce morrer no mar.

O mar está revolto. O mar tem, sobre e sob si, alguém que luta pela vida de muitos.

O mar guarda na sua imensidão sem fim,muitas esperanças, muita saudade e desespero, talvez.

O mar guarda a esperança dos que ficaram em terra.

O mar não sabe que Sebastião ainda não voltou.

O mar pensa ser doce como no poema de Caymi.

DONATO RAMOS
Enviado por DONATO RAMOS em 17/05/2008
Código do texto: T993470