Infância: crianças e brincadeiras em extinção!
Infância: crianças e brincadeiras em extinção!
Esses dias atrás, voltando da padaria, vi uma menininha de uns nove anos, que ia para a escola. Ao me ver, ela apressou-se em guardar o batom que havia acabado de usar. Batom de cor discreta, e descrição é bom em qualquer idade.
Tenho saudade do tempo que criança se comportava e se vestia como criança.
Hoje em dia, as crianças parecem ter vergonha de viver a sua infância como crianças.
Há uma preocupação e precipitação em se tornarem adultas o mais rápido possível, sacrificando uma meninice sadia e necessária. Queimam etapas.
Tenho dó de ver as adolescentes, e muitas vezes, pré-adolescentes, verdadeiras crianças tendo filhos, ao invés de brincarem com bonecas.
Não vivendo em plenitude a infância, a conseqüência natural é não conseguirem viver em plenitude a adolescência e a fase adulta.
E os pais alienados parecem não ver a realidade. Talvez porque eles foram criados assim, e também tiveram suas infâncias suprimidas.
Há uma inversão de valores. Ao invés dos filhos servirem e obedecerem os pais, são os pais, que muitas vezes, servem e obedecem os filhos. É uma anomalia familiar. Os pais agem como crianças e as crianças são obrigadas a agirem como adultos.
Existem os pais, principalmente com o apoio das “mães”, que vivem da exploração do “trabalho” dos seus filhos. Os modelos (as) fotográficos e de passarela, atrizes ou atores mirim.
Deixa eu ver se eu entendi: quando é um pobrezinho tentando ajudar a família a sobreviver, é trabalho infantil, não pode; mas quando não é uma questão de sobrevivência, na maioria das vezes, quando é pra realizar os desejos reprimidos dos pais, quando é para sustentar uma vida de luxo e vaidade, ai não é trabalho infantil, ai pode. Oh sociedade hipócrita. Com isso os ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres mais pobres. Pobres e ignorantes, pois na maioria das vezes tem que parar de estudar para trabalhar. Só posso chegar a seguinte conclusão: aqueles primeiros trabalhos que eu citei, não são encarados como trabalho de verdade, é um mundo de faz de conta.
É direito, e até natural, que queiramos fugir do trabalho, principalmente quando o trabalho é um fardo, uma necessidade; mas explorar as crianças para isso, é de uma indignidade e falta de caráter sem tamanho.
Tenho uma sadia nostalgia de quando os pais tinham mais deveres e os filhos menos direitos. Hoje os filhos podem tudo! Porque muitos pais não sabem, nem conseguem falar não.
Hoje em dia, os brinquedos brincam com as crianças, ao invés das crianças brincarem com os brinquedos. O que dirá então, brincar com outras crianças, o que seria o ideal. Os brinquedos de alta-tecnologia, se movem, ao invés de serem movimentados, falam, ao invés de serem ouvintes, interagem, ao invés de serem instrumentos de inteiração. E tem até brinquedo que não é para brincar. É só pra ficar olhando, ele brincar sozinho.
Tenho saudades das brincadeiras que estimulavam a interação e o conhecimento do outro. Saudades da amarelinha, dos carrinhos, do pega-pega, do esconde-esconde. De jogar peão, bolinha de gude, brincar de mãe da rua, de pular cela, de passa anel, de garrafão, de “stop”... Saudades das brincadeiras. Saudades de brincar e de fazer brinquedos.
Hoje os pais, ao invés de estimularem as brincadeiras, estimulam a aquisição de brinquedos. As crianças perdem criatividade e simplicidade, e os adultos ganham comodidade e conveniência.
As crianças não têm uma boa interação e se acham conhecedoras de tudo, dos outros e de si mesmo; quando na verdade, só estão se fechando num mundo particular de mimos, orgulho e ignorância. E os pais para piorarem a situação, ainda dizem: que as crianças sabem tudo, que já nascem sabendo, etc. E a criança, inflada de orgulho, é enraizada ainda mais no seu mundinho fictício. Em última análise, nós dependemos das humanas e não das exatas.
É muita informação, pouco conhecimento, e rara cultura.