Mulheres e seus meneios

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É extremamente complicado falar das mulheres. Primeiro, porque devemos ter o cuidado de não as ferir e de não as magoar. Beleza é fundamental, concordamos (concorda?), mas com um jeitinho carinhoso e malandro é possível ofendê-las, elogiando; segundo e, principalmente, porque não somos verdadeiramente belos, nós brutamontes e trogloditas homens, para condenarmos numa mulher a falta daquilo que não temos em sobejo, por casuística vaidade ou por acharmos que o imortal poeta tinha razão, simplesmente. Poetas também se enganam e fingem, mesmo que incompletamente na completude da verve poética.

Falar das mulheres é falar de ausências preenchidas – não a de pedaços que se complementam, mas de inteiros que coabitam; é falar de angústias resolvidas ou de felicidade tempestiva; é revelar aos pobres homens, aparentes donos do mundo, que o supremo mestre da humanidade aqui também habita, o nosso antípoda, a mulher.

Já repararam os característicos do caminhar masculino? Que horror! Somos mesmo descendentes dos primatas... De igual modo, já avaliaram sucinta e atentamente a diferença entre as pegadas masculinas deixadas ao relento e o deambular encantador e o quase levitar de toda mulher quando nos brinda, apenas ao caminhar, modificando a paisagem e o tempo? Que leveza! Que requebrados mais harmoniosos... Que marcação! São pisadas ritmadas que sentenciam canções de amor. A cada passo uma batida. E a sucessão de batidas quase sempre resulta em festa!

Homens fazem compras. Mulheres namoram as mercadorias. Elas entram nas lojas e se inicia um flerte. Elas fazem poses, põem uma das mãos na cintura (alguns estudiosos afirmam existirem variações em relação a esse detalhe corporal) e tocam carinhosamente cada peça – nesse contato já existe uma relação de afetividade incipiente. Elas conversam e já se sentem íntimas, perguntando, inclusive, se está legal... Imaginem a cena: uma meiga e gentil mulher de papinho em plena luz do dia com uma desconhecida peça de vestuário, perguntando:

– Ficou legal?’

– ...

E não há preconceitos nessa hora. Todas entendem a amiga e ficam alheias a tudo isso. A explicação? Simples. Todas estão enamoradas e fazem suas perguntinhas isoladamente ou em grupos. Tudo é motivo de festa!

Se o objeto do desejo é uma roupinha, elas a ‘vestem’ num primeiro contato, colocando cada item junto ao corpo, surgindo uma historinha de amor... E nós homens, hein! Sempre apressados, levamos pra casa apenas uma vestimenta para nos cobrir e proteger do frio ou do calor sem nenhuma ou quase nenhuma afetividade.

Se buscam um brinquinho pra enfeitar as orelhinhas, colocam-no junto ao corpo, frente ao espelho, e outro processo que somente uma mulher pode entender se inicia. E nós homens não temos muitas vezes nem a sensibilidade de perceber o que nos cerca e perdemos essas maravilhas da vida diariamente.

Animais! Não sentimos mais o odor de cadela no cio. Perdemos a sensibilidade do olfato. Não mais percebemos que somente das entranhas femininas, verdadeiramente femininas, é que fluem as mazelas menstruais. Nossas narinas não cheiram um palmo além do nariz!

São meigas, dóceis. Algumas são requintadas, outras meretrizes. As velhas são experientes e contrastam com as novas, insolentes. As requintadas são melindrosas – finas no trato. As meretrizes são enganosas – comidas no “prato”. As experientes são cautelosas, comedidas. As insolentes são descuidadas e “bolinadas” – é o que dizem.

Animais! Não percebem os seios ao vento desafiando a gravidade? Que descuido e que maldade perder este espetáculo em nome de um jogo de cartas!

Olhem. Observem. Sorvam, ao menos por curtos instantes, o dorso malhado da jovem nubente. Que pernas fartas! Será que suas mãos não conseguem tocar nem embaralhar mais nada além desse estático rei destronado!

São honestas, insanas; umas santinhas; outras profanas; São tímidas, recatadas; outras atrevidas, atiradas. Quais os tipos que mais nos perturbam? Esqueci... As cartas.

São loiras. Ah! As loiras... Outras morenas. Ah! As morenas... Outras... Ah! As outras: as ruivas, as mulatas, as pardas, as orientais...

São todas belas, todas místicas e únicas. Todas me vencem. Para vocês deixo o grito de um perdedor: Animais!

Nijair Araújo Pinto

Fortaleza – Ce, 08 de maio de 2008

Do meu livro 'Lapso Temporal'