Eu uso óculos?
Se as meninas do Leblon não olham mais pra mim, é porque não moro no Rio de Janeiro. Se volta e meia eu entro com meu carro pela contramão, é porque sou distraído. Mas eu uso óculos. Uso?
Caso me perguntem se os uso, não saberei ao certo responder. Sou um daqueles casos em que se usa óculos em determinadas situações. Seria mais fácil se fosse portador da tal 'vista cansada', usaria o par de lentes apenas para ler e teria uma resposta na ponta da língua: "- uso para ler". Mas meu caso é de astigmatismo. Fraco. Pouco mesmo. Então meu uso se restringe à situações. Se uma pessoa me conhecer dentro do cinema ou em algum estádio de futebol, conhecerá uma pessoa de óculos. Ao dirigir, meu problema não é ver a placa sinalizando a contramão, ou os carros à minha frente. Não leio nada de longe. Então, na minha cidade, não preciso usá-los. Em outro lugar, ou em alguma estrada da vida, uso para poder ler as indicações. Ando com um par dentro do carro, e oportunamente os coloco no rosto apenas para ler o nome de alguma rua que ainda não conta com a placa estilo 'magnólia' (ver filme homônimo).
Isso me faz rotineiramente perder, estragar, entortar ou mesmo quebrar de vez meus óculos. Após os jogos do meu timão, coloco-os no bolso. Detesto andar com eles pendurados na gola da camiseta. Se vou ao estádio sem as lentes salvadoras, vejo as jogadas, a bola. Mas não vejo os jogadores nem seus números. Então eu fico perguntando ao meu redor quem fez o gol, quem fez a falta, quem foi expulso. Complicado. Quando saio do cinema, bolso novamente. Para ver filmes, seria até dispensável, se não me importasse com a dor-de-cabeça por ficar duas horas me esforçando para ler a legendas. Quando saio do carro, jogo-os sobre o painel. E, em diversas destas oportunidades, eles quebram!
Há aqueles que praticamente nasceram de óculos. Passam a vida pensando no dia em que irão operar os olhos, algo comum e seguro hoje em dia. Não percebem o charme inerente às pessoas que utilizam o acessório como parte integrante de sua personalidade. Escolhem armações, formatos. Alguns chegam a ter coleções, e quando saem de casa se perguntam: "- com que óculos eu vou hoje"? Meninas de óculos chamam atenção, e não concordo com aqueles que logo após o primeiro beijo pedem para vê-las sem. Óculos são interessantes! Há também pessoas que utilizam aquela estranha correntinha. Prendem a armação e usam os óculos quase como um colar. Quando se deparam com algo para ler, eles estão sempre à mão. Ou mesmo os guardam no bolso da camisa, geralmente armações mínimas e leves. Mas estes podem dizer com clareza: eu uso óculos. E dificilmente os perderão ou destruirão de alguma maneira.
Nós não, os usuários ocasionais de óculos. Não há solução para nós. E lá se vai mais uma armação, destruída pois alguém sentou em cima.