NÃO MINTO - 10

Evaldo da Veiga


Eu não minto, quase sempre, já disse. E quando convenço com a minha versão do fato, às vezes sinto remorso, outras vezes alegria.

 Quase sempre sinto que minto; e até minto quando não sinto. Mas nem sempre inverto versões. Prefiro as mentiras singulares, aquelas mentiras do bem. 

Ás vezes, até, para não mentir, socorro-me na omissão. Não digo para alguém que ele e feio e nem mais o menos; prefiro dizer que ele é uma beleza diferente, tão linda que despercebida pela raridade. 

É ir fundo, eu sei, mas machucar pra que? Bem melhor fazer alegria do que tristeza; porque tem tristeza que além de feia, machuca. 

Às vezes minha mentira além de carinho é silêncio. Diz-se a mulher: - você é linda, neste momento a mais linda mulher. Caminho nos caminhos do teu corpo, buscando chegar juntinho ao teu tesão; que é Santo, o mais puro desejo. 

Meu corpo e o corpo dela gostam, e ai, nem sabemos que se trata de uma mentira ou da mais linda verdade. Não importa. O que vale é o carinho, a ternura e o desejo. 

E assim, se os corpos se entendem, a mais intensa sacanagem se transforma em bela expressão corporal. Corpos, comendo corpos, verdadeira vida. Alimento de um, alimento dos dois. 

Quando digo: amor, o teu perfume íntimo, o perfume natural do teu corpo, faz um calor inebriante que restaura a temperatura até do mais gelado gelo... 

Não sei se é verdade convencional, o que estou dizendo. Talvez não. Mas eu acredito e ela também. Assim, temos uma mentira, ou uma verdade, toda nossa. A mentira de nós dois.

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