O Assalto


Chovia muito, forte e ruidosamente. Candy lia, sentada sobre a cama. O filho, de sete anos, dormia ao seu lado. Monalisa ressonava na caminha a um canto, quando, de repente retesou-se, atenta a algum ruído vindo do lado de fora. As orelhas levantadas demonstravam a tensão da cadelinha, que começou a rosnar e, em seguida, a latir ferozmente, contra a porta que dava para a varanda e o quintal.
- Shhh! Mona!! Quieta! - Ela tentou calar a daschund, sem sucesso.
O menino acordou, e juntou-se à mãe nos esforços de silenciar o animalzinho:
- Vem, Mona, vem! É so a chuva! Vem, cachorrinha!
Mas, ante a insistência irritante dela, também eles começaram a ficar inquietos. Alguma coisa não ia bem.
Foi quando alguém bateu no vidro da porta, gritando:
- Francisco! Eu sei que você está aí! Abre a porta!
O menino agarrou-se a ela com os olhos quase saltando das órbitas e ela se esforçava para engolir novamente o coração antes que este voasse pela boca aberta num grito surdo.
O homem do lado de fora insistia:
- Francisco! Acabou! Abre a porta!
Ela pegou o celular e ligou para o irmão que assistia TV no quarto acima do dela:
- Mano! Tem alguém aqui fora! Chama a polícia!
- Como assim? O Leão nem latiu... - referia-se ao enorme cão de guarda da família, mestiço de rotweiller com dog alemão.
- Mano! Estou falando sério!
Novas batidas na porta de vidro:
- Abre esta porta ou vamos arrombar!
Ela discutia com o irmão ao telefone, quando ouviu o tiro.
- Francisco, é a polícia! Abre logo essa porta!
- Mano! Estão dizendo que é da polícia! Eu não acredito, não. Liga pra polícia e vê se é isso mesmo ou se é algum ladrão com essa história.
O irmão, que também tinha ouvido o disparo, seguiu a orientação dela. Foi informado de que havia, sim, uma ação policial em andamento na Quadra 01 Conjunto 02 Casa 07. Um homem, vítima de assalto que estava junto com a família em poder dos bandidos, conseguiu pedir socorro pelo celular.
- Mas aqui é Quadra 01 Conjunto 07 Casa 02.
- Como é?
- É isso mesmo. Acho que eles estão com o endereço trocado.
Desfeito o equívoco, ela quis falar com o comandante da operação.
O rapaz chamou, timidamente, colado à janela do quarto.
- Capitão Mendes?
Silêncio.
- Tem algum capitão Mendes aí? - ele repetiu, um pouco mais alto.
- Sou eu! - gritou uma voz forte vinda de fora.
- Capitão Mendes, vocês estão no endereço errado. Estou aqui com a tenente Silva ao telefone. Ela quer falar com você.
- Deixa de esperteza, Francisco. Você não vai escapar dessa!
- Por favor, capitão. Deixe-me abrir a janela, eu lhe alcanço o aparelho sem fio.
- Está certo. Abra a janela! Bem devagar...
O rapaz obedeceu. Tremendo de medo de levar um tiro, alcançou o telefone para o militar. Ficou ouvindo a conversa:
- Como assim, endereço trocado?... Conjunto 07 Casa 02! É o endereço que vocês passaram e... Conjunto 02, Casa 07???
Pediu a um soldado que verificasse o endereço na ocorrência, e, confirmado o engano, levou os oito carros e quase trinta homens que cercavam a casa para o local onde uma família em pânico era mantida sob a mira de armas. Esperava não ser tarde demais para evitar o pior e prender os ladrões.
Ainda assim, fez questão de manter dois soldados de vigia na casa, pelo resto da noite. Sabe-se lá por que. Temeria que o bandido também estivesse com o endereço trocado?
Depois, ficaram sabendo que nenhuma das vítimas sofreu maiores danos, mas o tal Francisco e sua gangue escaparam ilesos.
Leão, drogado pelos homens da lei, só foi acordar uns dois dias depois. Monalisa, ansiosa e tensa ainda do susto, passou todo o tempo a rodeá-lo, empurrando-o com o focinho na esperança de vê-lo logo desperto, louca para contar-lhe como, enquanto ele dormia, salvou a vida da família toda.