TRICOLORES
Meu pai era botafoguense, meu irmão mais novo vascaíno e o mais
velho, flamenguista. Eu me tornei fluminense. Ninguém na família era
carioca, nem tão pouco, morava no Rio de Janeiro, mas desde cedo
aprendi em casa, o verdadeiro significado da palavra respeito pela
opção alheia. Não me perguntem o porquê, mas as ruas de Brasília eram enfeitadas com as cores das bandeiras cariocas e paulistas.
Os bons ventos levaram meu pai para ser parte dos torcedores das
nuvens e minha família para recomeçar o jogo num outro campeonato da vida em São Paulo. E como todo novo "paulistano", de todos os times desfilando nas passeatas dos bairros, optei pelo tricolor paulista;
talvez em uma tentativa de ainda manter a paixão de infância pelo
outro tricolor do Rio.
Nunca fui "fanático" pelo São Paulo, sempre fui um torcedor brando.
Se fui torcedor de carteirinha e camisa de time um dia, isso ficou na
infância. Nunca fui num estádio, nem sei o nome dos jogadores, mas
acompanho o placar dos jogos e torço em silencio por suas vitórias.
Ontem à noite, o São Paulo e o Fluminense jogaram no Morumbi, por uma vaga na disputa pela Taça Libertadores da América. A Disputa dos dois tricolores teve um impacto estranho no torcedor que há em mim: sentados no sofá, assistindo o jogo, estava de um lado, o adulto zen torcedor e do outro lado, a criança barulhenta, torcedora roxa.
Enquanto o adulto devorava um prato de aperitivos e tomava sua
cerveja; a criança se esbaldava com pipoca e iogurte. O moleque
vibrava toda vez que o fluminense ameaçava e o adulto se retorcia
quando a ameaça parecia eminente.
Quando o adulto finalmente gritou gol, o moleque calou-se aborrecido.
O adulto virou criança em sua comemoração e o moleque virou adulto na sua raiva temporária. Porém, ao fim do jogo – belíssimo por sinal – o
adulto e a criança se uniram num longo abraço e o jogo terminou com
as três cores mais bonitas do futebol: espetáculo, profissionalismo e
paz entre as torcidas.
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