E o mundo adora os alegres, sobretudo os bobamente alegres.

Eu sou uma pessoa terrível. E isto afirma categoricamente o T-REX na minha cabeça.

Ando escandalosamente triste e deprimida. Uma verdadeira estraga festas, uma companhia azeda e desagradável, inclusive para mim mesma. Um exu de galinheiro, daqueles que dão trabalho pra subir.

Que o diga o T-REX ele não me suporta.

E o mundo adora os alegres, sobretudo os bobamente alegres. Brasileiro adora bêbado, doido, mulher pitizeira. Brasileiro adora rir – ninguém sabe bem do que – e por isso dá preferência aos que lhe provoquem gargalhadas.

Eu não tenho tido vontade alguma de rir esses últimos tempos, nem de um motivo e nem de outro. Outra: detesto doido e bêbado, não necessariamente nesta ordem. Não tenho a menor caridade, com os bêbados e acho que os doidos, de fato – os que comem merda, rasgam dinheiro e não tem medo de carro – devem receber assistência médica digna e serem conduzidos através dessa sociedade assassina, que os transformam ora em palhaços ora em mendigos.

Não suporto gente lombrada, seja de Lexotan, seja de bagulho. Não tolero! Detesto a irrealidade. Nunca fumei maconha, nem na adolescência, não por preconceito – naquele tempo eu ainda não sabia que o tráfico de drogas sustenta uma extensa rede de violência e crime – mas por que eu nunca concordei em ficar “artificialmente” alegre. Risada boa é risada que vem da coisa que a gente acha graça e não por que se está todo lombrado/bêbado/cheirado.

Todas as cachaças erradas – um número considerável delas – que tomei na vida nunca o fiz por alegria; se alguém me encontrasse bêbada numa festa podia já ficar sabendo que eu tava malíssima, na fossa, curtindo dor de cotovelo-mãe, decepcionada com o ex, enfim...só não tava era feliz.

Feliz numa festa eu tomo uma dose, uma cerveja...não dá tempo de beber, eu gosto de rir, conversar. Também não como muito quando estou contente.

Em festas onde não se tem o que falar e nem com quem, come-se muito e bebe-se excessivamente ao som de uma música burramente alta...não se tem mesmo de que falar, pra que música legal, comida pouca e excelente, bebida na medida certa? Zoada e boca cheia, assim se tem excelente desculpa de ficar calado.

O T-REX avisa que estou divagando. Estou mesmo.

Ando deprimida, com uma sensação de que o mundo vai mesmo acabar, a escala de cores cada vez mais cinza, a risada cada vez mais rara. Enfim, péssima companhia para os “alegres” de plantão.

Sinto falta de um amigo adulto que escute minha dor e a compreenda, que não queira que eu fique contente a pulso, que respeite a dor que eu estou sentindo e é real, pelo menos para mim. Às vezes a tristeza é uma condição daquele momento da vida, não dá pra ficar fingindo alegria.

Eu tomo Lexotan, de vez em quando, mas não para ficar alegre. Tomo para que o Tiranossaurus Rex que vive em mim não coma ninguém.

Não tomo nada nem vagamente parecido com Prozac. Tomei uma vez e me senti uma palhaça. O mundo desmoronando à minha volta e eu incapaz de elaborar qualquer emoção a mais que uma galinha de granja.

Sirva a quem servir, pra mim não serve.

É um dos insolúveis mistérios do mundo. Por que não se pode ser triste?

Eu, e todos os bipolares – antigamente éramos maníacos depressivos, hoje somos bipolares – querem saber.

Sentimo-nos vagamente envergonhados por que somos vagamente tristes, mesmo quando muito alegres. Por que nossos sorrisos são invertidos. As pessoas ficam cobrando uma alegria boba que a gente não tem. A gente não tem, cacete! Pronto.