Foi a visita...
Fui visitar uma prima, daquelas que a gente é criada junto e trata como irmã, mas também pudera, nossas mães são irmãs e nossos pais também.
Ela, tem vinte anos, um marido e duas filhas, mora com os pais, mas já está planejando uma casa em outra cidade. Eu, tenho dezoito anos, sou bem resolvida pessoalmente, ou seja, estou solteira, virgem e feliz, faço faculdade, sou independente e quero me casar um dia. Na balança, eu deveria ter uma vida mais feliz, ou mais satisfeita do que a dela, pelo menos aos olhos do meu pai. Eu teoricamente venci na vida, pelo menos por enquanto. Se bem que muitos rezam a solidão dos quarenta para as mulheres que não casaram até os trinta. Mas bem, eu estava lá, feliz em revê-la. Ver as crianças, duas menininhas lindas e arteiras que quase me tiraram do sério quando começaram a brigar por causa da minha bolsa.
Peguei uma no colo brinquei de maquiá-la, mas ela não me deu muita bola e logo estava se esperneando e chamando pela mãe... É, eu não tenho muito jeito com crianças, foi quando me bateu a primeira dúvida, eu iria ser mãe um dia?
A gente sempre planeja, mas a resposta fica no ar.
E afinal, eu tenho apenas dezoito anos, não é natural desejar isso, assim, tão nova... Calma, esse tipo de preocupação vem depois.
Daí chegou uma outra prima minha, daquelas que a gente só conhece depois de grande, ela estava barriguda, parecia que tinha engolido uma bola de basquete. Sim, era uma gravidez. Dezessete anos e uma barriga linda, invejável. “E eu nem tenho um namorado!” . Não sei, quando e nem porque isso me ocorreu. Nunca tive medo desse tipo de solidão.
Ao todo, estavam na cozinha minha mãe, duas tias e uma prima da minha mãe. Foi quando eu me vi, no meio de um monte de mulheres casadas, mães, todas donas de casa. O principal assunto era gravidez, é claro. Me ofereceram um pedaço de bolo, eu sai do meu regime, sagrado para toda feminina que se preze. Enquanto elas conversavam, eu comia. Até que alguém me deu atenção, “E a faculdade, está gostando?”, eu julguei que seria minha revanche, “Estou amando, é maravilhoso. Morar sozinha, estudar, ainda mais o que era meu sonho.” Elas olhavam para mim, sem entender muito bem do que eu falava. “Você está namorando?” Não era minha grande chance, respondi um não tentando sorrir ao máximo.
Então, minhas primas conversavam. Elas, porque eu nem fazia parte daquele mundo, qualquer coisa sobre enjôos, dilatação, partos, bebês que giram, que não giram, camisolas... “Minha hora já está chegando”, disse a grávida, eu ri, acompanhando todos. Era muito estranho aquilo, aquela situação, elas estavam tão felizes e nem pensavam no futuro melhor que poderiam ter dado para seus filhos se tivessem mais paciência, ou consciência, ou sorte.
Eram tão jovens... E eu também, mas me senti estranha, acho que era inveja daquela felicidade de ser mãe, incondicionalmente...
Mas um dia, elas retribuem a visita.