Sete maneiras de amarrar um homem
Quatro anos sozinha: nem paquera, nem namorado, nem amante. Ninguém para fazer amor semanalmente ou uma vez por mês. Achava-se feia por não se sentir desejada (qualquer mulher que se sinta desejada consequentemente supõe-se lindíssima).
Entrou casualmente numa livraria, baixou os olhos num livro em exposição que prometia sete dicas infalíveis para amarrar um homem.
Em casa, xícara de chá na mesinha do abajur. Começou a ler a primeira das 235 páginas que se resumiam, como propunha o título, em sete tópicos eficazes, durante a leitura dos quais refletia e comparava a seus casos:
1 – Jamais faça perguntas a um homem. Não pergunte nem mesmo as horas! Todo homem que se preza detesta perguntas.
- Isso é um absurdo! Como não posso perguntar nada? Lembrou-se de cinco ou seis namorados com quem rivalizara em razão das perguntas que fazia. – O livro está certo, concluiu sumariamente.
2 – O Homem é um ser filosófico, social, espiritual e culturalmente elevado. Evite discussões estéreis em torno de sexo e amor. Se você não diferenciar que na teoria amor é amor e sexo é sexo e, na prática, ambos alcançam finalidades iguais, você não é uma pessoa de mente aberta.
Jogou o chá que esfriara, encheu a xícara novamente. A cozinha pequena suprimia a sensação de vazio. Um de seus ex-amantes advertira-lhe que sexo era uma necessidade vital, fisiológica e animalesca do homem, que o homem sabia discernir sexo de amor e que, maneira didática, sexo se fazia com qualquer pessoa, mas amor exclusiva e redundantemente com a pessoa por quem se nutria afeto, carinho, cuidados, amor.
Isso não implicava que as mulheres que faziam sexo fossem menos valorizadas do que as que faziam amor. As mulheres que faziam sexo eram inestimáveis: quem socorria os homens nas horas de maior e imediata necessidade, sem preconceitos, sem convenções, sem rancor?
3 – Bajule, adule, agrade, admire, acarinhe, deleite, satisfaça, anime, incentive, afague, contente, compraza, encante, simpatize e afeiçoe seu homem. Minta, se necessário. Homem gosta de pensar que é importante.
- Sem comentários!
4 – Lembre-se sempre que, mesmo sendo dona de casa, você é a dona da casa. Vista-se e porte-se como tal. Camisa de políticos, cabelos desgrenhados, calcinhas e sutiãs coloridos e gastos, faces mal maquiadas? Nem pensar!
Um calor intenso subiu-lhe pelo corpo. Deixou o livro cair pelo lado direito do sofá, calçou os chinelos e no espelho do guarda-roupa vislumbrou a mulher a que seus amantes, namorados e eventuais entreviam inevitavelmente em seu apartamento: cabelos soltos, presos em poucos lugares por grampos e elásticos coloridos, uma camisa com três buracos nas costas, um no ombro e outro na altura do seio, calcinha velha acima do calção de bolsos rasgados, meias pretas com furos na ponta...
Antes de retomar a leitura, mudou de roupas. Ao sentar, o cinto preto combinava com uma bota de cano alto que, por sua vez, compartilhava a mesma harmonia da calça preta e da camisa branca com leves traços artesanais nos ombros. O cabelo razoavelmente volumoso sustentava-se por um coque discreto.
Sentada no sofá, ereta, folheava solenemente o livro.
5 – Seja gostosa! Dama na sociedade e insaciável na cama. Mesmo que seu parceiro não queira, faça amor todos os dias e, se possível, o dia inteiro. Esgotado, ele não terá forças nem vontade de pensar e procurar outra mulher.
A imagem de Péricles, um namorado gentil, gostava de dançar e falava russo, estourou as portas da memória. Quantos dias não saíra desesperada sem dar um beijo?
Se o tivesse violado antes de ir ao trabalho, provavelmente não a teria trocado pela vizinha, transitando de camisola transparente pelo quintal ou pelo jardim.
6 – Se você não faz perguntas, sabe diferenciar amor de sexo, faz seu homem se sentir importante, é a dona da casa e é gostosa, parabéns! Você é uma mulher completa. Pronta para segurar seu garanhão e macho predador por muito tempo.
7 – Se você ainda não preencheu os requisitos do item seis, empenhe-se, você conseguirá. Boa sorte!
- Sei tudo sobre amarrar um homem. E agora? Como faço para conquistar um?
*Publicado originalmente no Jornal de Assis (Assis – SP) de 15 de maio de 2008.