Queimando os fósforos

Vocês conhecem um homem chamado Hans Christian Andersen, um escritor dinamarquês? Ele apesar de ter escrito romances adultos, livros de poesia e relatos de viagens, foram os contos infantis que mais se destacaram na vida desse escritor. E dentre os contos podemos citar “O Soldadinho de Chumbo”, “O Patinho Feio” e o fantástico “Deus está nu”. Pois bem, maravilhosos contos foram escritos por ele, mas gostaria de citar aqui um que me chamou muito a atenção e seu nome é: “A pequena vendedora de fósforos”. Esse conto narra a história de uma garotinha que no inverno do último dia do ano se encontrava na rua, descalça, congelando-se por causa do frio. No seu pequeno avental havia alguns fósforos que ela pretendia vender para conseguir algum dinheiro. Mas nenhum fósforo fora vendido e a menina com frio teve que usar sua única fonte de renda para poder se manter aquecida, viva. Queimou toda caixa de fósforos, fazendo contraste com as casas que estava ao seu redor, todas com suas lareiras e mesas fartas de comida.

Bem em resumo é essa a pequena história contada por Andersen. Mas porque eu resolvi escrever sobre isso, já que seria uma ótima reflexão para o próximo ano novo? De fato essa história se repete todos os dias, seja no frio ou no calor. Em todas as épocas temos nosso momento de abandono, onde a vida para nós se torna algo terrível e cruel. Aonde temos ao nosso redor pessoas felizes e nós em tremenda solidão e amargura. A verdade é que somos sempre crianças diante da imensidão da vida e da sua potencialidade. Sentimos medo pela nossa fragilidade… quão medrosos somos. Mas que faremos quando o frio da noite bater em nosso rosto e só nos restar caixas de fósforos para vender? Esses fósforos que vendemos são os fósforos que precisamos. Eis um mistério da vida, oferecemos aos outros a nossa fonte de vida. É bem mais fácil dar solução aos outros, mas não sabemos para onde ir com nossos problemas, como diz Shakespeare “Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente.”, não era assim com a garotinha? Morrendo de frio e vendendo seu aquecedor (fósforos).

Mas a garotinha foi inteligente, mesmo com medo de voltar para casa e apanhar do pais ela não morreria ali. Então de um por um foi acendendo os fósforos. O que fazemos com nossa vida? Mantendo-nos sempre no frio, morrendo aos poucos, somente observando como as casas ao nosso redor são aconchegantes e nós na rua. Ficamos olhando para o céu e não vendo nada, daí surge a idéia de que alguém está em algum lugar a nos olhar… e a gente morrendo.

Temos toda solução conosco, em nosso avental sempre há caixas de fósforos para aquecer nosso frio, iluminar nossa noite… mas não serei mentiroso de dizer que sairá vivo dessa noite tenebrosa e triste que está. Talvez não escape da morte, talvez o pior de fato aconteça. Mas, pouco importa o que acontece, vale mesmo é a solução que damos ao acontecido, vale a alegria de morrer diante da tristeza da vida. Não que a vida seja ruim, pelo contrário, uma morte feliz é sinal de que valeu a pena estar vivo. Só quem dá valor a vida, morre sorrindo. Só quem ama a vida, sofre com regozijo.

A garotinha morreu, no frio, com todos os palitos na mão, queimados. Mas morreu feliz, partiu com sua avó, para um outro lugar. Alguns falam que ela partiu para Deus, outros que ela desencarnou… eu prefiro achar, que ela simplesmente morreu, mas gastou todos os fósforos que tinha. Isso para mim, já é honra demais.

Wagner Martins
Enviado por Wagner Martins em 15/05/2008
Código do texto: T990313