Crônicas e contos
Esta tarefa de distinguir o que é um conto ou uma crônica costuma confundir escritores, críticos e professores.
Alguém termina de escrever um texto e quer publicá-lo. Vem a dúvida. É crônica ou conto?
A maioria das pessoas acha que a distinção é fácil, quando de fácil não tem nada. Depende do autor, se o texto é nitidamente uma história, com muitos diálogos e envolvendo um grau de poesia, tudo faz crer que seja um conto. Já é um bom início de distinção da crônica, que é sempre mais direta.
Há quem afirme que a crônica não comporta diálogos. Mas esta regra não está escrita em nenhum livro de teoria literária, pelo que sei. Se os diálogos caracterizam a peça, então podemos ter um conto.
É interessante notar como quase todos os professores escrevem sobre o assunto, mas quem vai dizer com segurança se o texto é conto ou crônica é o autor. Se quando ele escreveu tinha intenção de informar sem ser repórter, é crônica.
Caso esteja com o objetivo de criar um fato, uma situação e usa personagens para atingir o seu objetivo, é um conto. Eu penso assim, embora possa estar completamente equivocado – coisa que não acredito. Diria que quando escrevo, tenho um objetivo certo. Ou informar, sem ser jornalista, ou ser um pouco mais poeta dentro da prosa, embelezando o texto e conduzindo o leitor a um final determinado. A primeira hipótese seria uma crônica; a segunda, um conto.
Muitos teóricos são adeptos desta maneira de pensar. Se tiver alguma poesia na escrita, é conto, e não se fala mais no assunto. Mas quantos são os autores que escrevem belas crônicas cheias de poesias! Quem já leu uma crônica de Affonso Romano de Sant’Anna sabe disso, embora o autor seja mais poeta e suas crônicas não andam soltas em jornais, revistas ou sites literários. Por ser poeta por excelência, quando escreve algo o traço vai se fazer notado, é impossível ser de outra forma.
Já Nelson Rodrigues, embora teatrólogo e por esta razão acostumado com as paixões humanas, escreveu no fim de sua produtiva atividade muitas crônicas impregnadas de um falso sarcasmo, mas que na verdade era um lirismo. Daí, quem afirmar que escreveu contos, não está apartado da realidade.
Guimarães Rosa, em “Sagarana”, publicou contos e assim os classificou, sendo a obra-prima o “A hora e a vez de Augusto Matraga.”
O assunto não é nada tranqüilo quanto parece. Já houve quem dissesse que se o autor colocar como crônica passou a ser, mesmo que se trate de belo conto.
Complicado... Acho que acabei de escrever uma crônica, aliás, não acho. Tenho certeza. Mas haverá quem diga que foi um artigo didático, ou uma lição.
E estão enganados, por que não estou a fim de dar lição a ninguém...