Revolta Animalesca
É o que eu disse. Estamos perdendo para os outros animais, não somos mais os seres superiores! E quem tem dúvidas, que ligue a tevê! Minha vizinha nunca apareceu na telinha de casa alguma (e arrisco dizer que ela surgiu antes da televisão), mas nos jornais o tal do mosquito da dengue aparece diariamente agora. Os quinze minutos de fama! E todos os anos ainda têm os caranguejos do balneário para disputar meu espaço de artista. Este ano, páreo com o mosquito preto-e-branco e os caranguejos, vieram os caramujos invadindo uma cidade. E não são quaisquer caramujos não. Enquanto sou uma simples brasileira, eles são importados, caramujos africanos. Eles invadiram! E agora, que fazer? Corram!
Matéria de revista é cachorro que pensa, matéria de jornal é inseto dominando o mundo, matéria de filme hollywoodiano é gato superdesenvolvido e quase extraterrestre. E eu? Tenho bastante matérias também, não pense que fiquei para trás: português, química, matemática, biologia...
Certo, certo. Como vou virar artista desse jeito? Devo me vestir de mosquito da dengue e picar a primeira perna que estiver dando sopa? Faria algumas propagandas, com certeza, mas não sei se faria sucesso.
A última peça de teatro que representei, falava de uma metamorfose com barata. Acreditem se quiser, a barata fez mais sucesso que eu. Imagine só! Quase dez anos de teatro para ouvir no final da peça que o texto sobre a barata foi ótimo. E a minha atuação? Que importa, tinham mais outros sete atuando mesmo... E se vier algum biólogo defender esse inseto cascudo, lhe meto naftalina goela abaixo!
Sortudo é o Homem-Aranha que é “ser superior” e bicho ao mesmo tempo. Passou de fotógrafo de jornal fajuto para super-herói, ganhou milhões de dólares destruindo a cidade e enchendo as casas de teias e ainda ficou com a mocinha no final! Duvido que alguém me desse tanto crédito e dinheiro para sujar a casa deles e encher a parede de buracos. Provavelmente, iria acabar em uma delegacia ou coisa pior!
Enfim derrotada. O jeito é esperar que a sorte venha para o meu lado e quem sabe na próxima encarnação eu volte como inseto. Enquanto isso continuo sendo mais uma das muitas pessoas que ficam sentadas no sofá, vendo os bichinhos fazer sucesso e matando os parentes deles com uma borrifada de inseticida ou uma chinelada e muita dor de cotovelo...