O FUTEBOL E OS QUERO-QUEROS

Quem assistia a partida entre Coritiba X Palmeiras teve a desagradável supresa de ver uma bola ser arremessada e atingir em cheio uma ave que sobrevoava o gramado do Estádio onde a partida se desenvolvia. A ave ficou inerte no chão e o jogo continuou. Eu, como telespectador e como uma pessoa observadora da natureza tanto que no que se refere a fauna e flora, fiquei atônito esperando que o cinegrafista operasse um close no pássaro atingido, para ver se ele tinha alguma reação ou se pudesse ser salvo por algum jogador. Infelizmente, quando a lente da câmera se voltou para a cena do quero-quero ferido, minha tristeza foi imediata, porque vi que o bichinho estava inerte; talves tenha morrido. Numa cena inédita, vi o jogador Denilson pegar o passarinho nas mãos e levá-lo para alguém à beira do campo, para que seu pequinino corpo não fosse esmagado pelas chuteias de um jogador. Soube hoje que ele sobreviveu, graças a Deus!

Lendo hoje um noticiário no site da Globo, constatei que não era a primeira vez que um quero-quero era atingido num jogo de futebol, eis que em 2004, no Rio Grande do Sul, no Estágio Olímpico, na realização de um GRE-NAL, um jogador pisou num pássaro dessa raça, levando-o à morte.

Os biólogos explicam que o pássaro vive em regiões abertas e de grande extensão onde figuram imensos gramados. Com o progresso das cidades, o calçamento e o sumiço de regiões que tenham essas características, até porque o próprio campo ou zona rural tem esgotado seus recursos naturais em razão das grandes plantações etc., o animal tem de refugiar-se nos locais que ainda parecem propício para o seu desenvolimento e acasalamento, que são os estádios. Assim, tem ele e falsa noção de que aquele habitat é o mesmo que a natureza lhe reservou para procriar-se. Ledo engano, pois em noites escuras é acordado por grandes holofotes que iluminam seus ninhos e deixam à mostra seus filhotes, além do barulho ensurdecedor que a torcida causa ao redor de sua ninhada. Assim, atônitos saem voando em disparada, dando vôos razantes sobre a cabeça dos pseudos invasores, sem atentar que existe uma arma mortal que circula sobre os quatro cantos do gramado - que é a bola - e vez ou outra alguns deles são atingidos mortalmente.

Está aí mais uma evidência da agressão que o homem tem executado contra a natureza no último século. Os passáros passaram a viver praticamente nas cidades urbanizadas e que, necessariamente, são construídas à base de muita sombra, com plantações de árvores ornamentais e algumas até centenárias que se instalaram por muitas décadas nos grandes centros urbanos. Aqui na minha cidade – Campo Grande – é comum a presença de muitas pássaros como papagaios, periquitos, pombas jurutis, araras, pombinhas brancas, bem-te-vis, sanhaços, além dos já conhecidos pardais que se instalam em nossas residências construindo ninhos e inundando os tetos com seus resquícios de ramos utilizados para os ninhos.

Enfim, por enquanto esses pássaros ainda estão voando pelos nossos céus e nos dando lição de vida, mas o nosso receio é que num futuro remoto não sejamos mais receptivos a esse tipo de beleza, pois se o homem continuar a devastar, sem preocupar-se com a causas que o devastamento pode causar, estaremos fadados a só ver essas aves apenas nos zoológicos ou nas reservas.

Espero que aquela vida de um simples quero-quero vivenciada ao vivo em todo o Brasil também sirva para que outras pessoas – além de mim – despertem para essa questão ambiental que vem assolando as esperanças de dias melhores.

Nada ocorre por acaso. A possibilidade daquela bola acertar o quero-quero era bem remota, no entanto, isso aconteceu. Será que não foi um sinal para que o homem passe a se preocupar com essas aves e passe a entender de que ela merece um lugar para viver e para procriar?

Se cada um de nós fizesse essa indagação, certamente que estaríamos de alguma foram contribuindo para que o mundo fosse melhor, inclusive para as aves que vivem em nossa Pátria.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 14/05/2008
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