GLS
São seis amigos. Três casais que sempre saem juntos. Numa sexta-feira, na hora do almoço, Rejane viu o bar novo. Achou a fachada diferente, pesquisou na internet, comentou com os amigos e, à noite, estava o sexteto à porta do restaurante. O lugar era escuro, um clima meio pub, mas, curiosos, foram entrando. Percebendo ser o centro das atenções, passaram por uma espécie de corredor, espremidos entre uma parede e um balcão, no qual rapazes de calças e camisetas muito justas estavam apoiados, bebericando seus martinis. Ao final do corredor, apenas uma escada. Eles desceram e chegaram a um salão, no subsolo. No meio do espaço, uma grande mesa de sinuca, em volta da qual havia duas belas mulheres jogando. Uma muito loira, a outra, morena. Elas pararam o jogo quando eles passaram, observando-os, mas depois retomaram a partida. Seria até um espetáculo excitante para os rapazes, não fosse pela postura e atitudes delas, muito masculinas. Cada tacada apresentava a sonoridade de um strike de boliche tal era a violência praticada. O grupo acomodou-se numa mesa a um canto. A garçonete aproximou-se, deixou os cardápios e voltou para trás do balcão.
Quando se perceberam a sós, começaram os comentários:
- Estranho aqui, né?
- É... Acho que é GLS.
- Você acha? Tá na cara...
- Quer ir embora?
- Eu? Não, por quê? Se é GLS, pode me considerar Simpatizante.
- A gente poderia ir pra outro lugar...
- Só depois que a loira coçar o saco...
Todos riram.
- Deixa de ser grosso!
- Ei! Tô só brincando...
- Ah! Gente! Deixa de bobagem. Diz que a comida aqui é ótima. Vamos ver o menu. - protestou Rejane, enquanto olhava o cardápio.
Os outros a imitaram.
A garçonete aproximou-se novamente, com o caderninho:
- Já escolheram?
Carla perguntou:
- Vocês só têm refeição? A gente estava mais a fim de alguma coisa para beliscar...
A moça respondeu, de pronto:
- Para beliscar? Tem eu! - e deu uma piscadinha.
Ante o constrangimento meio divertido deles, a moça continuou:
- Tem o Cesinha também, se algum de vocês preferir - e apontou um outro garçon que, ao sentir os olhares do grupo, sorriu, oferecido, para eles. – Aliás, vocês podem beliscar todo mundo aqui... – completou.
Eles agradeceram e levantaram-se, com a desculpa de que não queriam jantar, preferindo mesmo alguns belisquetes. Embora parecesse, não era uma questão de homofobia. Tinham boas cabeças, não alimentavam preconceito contra as pessoas por sua opção sexual. Tinham mesmo alguns bons amigos gays, com quem saíam vez ou outra. Também não havia casais homossexuais trocando carícias ousadas, nada que pudesse ser considerado ofensivo. Mas sentiram-se desconfortáveis lá, como se não fossem bemvindos, apesar da falsa simpatia com que estavam sendo tratados. Aquele oferecimento desnecesário chegava a ser heterofóbico.
Isso me faz lembrar quando uma amiga sugeriu que inscrevesse um conto num concurso literário com ênfase no combate ao preconceito. O texto deveria tratar de lesbianismo. Perguntei:
- Mas... eu não preciso ser lésbica, não é? Vai que venço o concurso e chego lá com o maridão a tiracolo para receber o prêmio e me barram, porque não sou do meio...
A amiga riu:
- Ia ser engraçado. Preconceito ao contrário...
Sei lá... Depois dessa história no bar GLS, não duvido de mais nada...