SALAS DE ESPERA, E MUITA ESPERA

Triste a constatação de o porquê de médicos e dentistas terem belíssimas e confortáveis salas de espera para atenderem seus pacientes. Geralmente são lugares de baixa iluminação, muito suave e tranqüilizante, paredes com cores relaxantes escolhidas num estudo sobre o efeito dos tons nas pessoas. Não é, e isso é fato, por apenas fim estético na decoração ambiente. Na verdade os tons são utilizados para manterem seus pacientes quietos nas poltronas por longas horas sem se manifestarem, sem questionarem, sem desistirem da consulta, enquanto são obrigados a esperar pelo terrível descompromisso com os horários marcados na agenda.

Quem nunca amargou a espera por um médico que se atrasou, não uma, não duas, mas em todas as vezes em que chegamos àquele lugar cujos horários são feitos por um relógio que parece sempre estar quebrado? Difícil acreditar que ninguém jamais se irritou lendo as revistas muitas vezes tão velhas que a manchete de capa mais se parece um título de um periódico de História do que um fato contemporâneo. E haja revistas para manter as pessoas quietas, e muito entediadas, sentadas sem expressão nenhuma que não seja a do tédio. Pior ainda é o gênero das publicações dispostas em todos os cantos, que ainda não consegui entender, são as mais fúteis encontradas nas bancas, e ainda maior é o desespero quando se percebe que não foram compradas a esmo, mas sim assinaturas anuais de textos e fotos vazios de conteúdo. Nada contra pessoas que se interessem por fofocas de celebridades ou pelo que acontecerá nos próximos capítulos das telenovelas de rede aberta, mas, convenhamos, não se pode ignorar que alguns pacientes gostem de leituras sérias ou de atualidades. Há certo desprezo sobre a capacidade intelectual dos enfermos por parte dos médicos? Afinal, é difícil crer que alguém que dedique tantos anos de sua vida desenvolvendo suas inteligências e se especializando em uma profissão tão importante subestime aqueles que seguiram um campo de atuação diferente, mas tão importante quanto, para a formação de uma sociedade.

Mais se parece a um daqueles filmes de terror classe B, os famosos filmes trash, do que, por exemplo, padecer na sala de espera de um dentista por horas, rodeado de desconhecidos e ouvindo por detrás da porta do consultório o barulho irritante de motorzinho. É angustiante. Por falar nisso, a tecnologia está tão avançada que me pergunto: é mesmo necessário que esse aparelho tenha o mesmo barulho insuportável desde os primórdios da odontologia? O motivo deve ser, muito provável, algo masoquista; uma forma de assustar os pacientes que já sofrem pelas dores de uma cárie ou um nervo arruinado. Imagino o sorriso satisfeito do dentista sob aquela máscara branca, enquanto o paciente arregala os olhos e treme inteiro quando ouve aquele zumbido diabólico do instrumento de tortura. É um problema com a mãe, diria Freud, em seu divã numa consulta psicanalítica. E será que Freud também mantinha revistas de fofocas em sua sala de espera para que os seus pacientes passassem o tempo?