A barra da calça jeans
Lá vou eu de novo falar com você.Com você que me lê. Falar sobre a Odália que neste instante, nesta madrugada fria, arriba a saia e trepa na carroceria dum caminhão para colher uvas no plantio do japonês. Sim caro leitor, do japonês. Poderia ser do brasileiro. Junto com ela outras raparigas que ao romper da aurora abandonam a cama para trabalhar. Isso dando graças por encontrar, pelo menos, esta válvula de escape. E por falar em trabalhar, lembrei-me daquela reportagem que passou na TV sobre um rapaz de dezesseis anos que fazia barras de calças jeans, numa fabriqueta do interior de Minas, junto com a mãe. A mãe era a funcionária e o filho ia com ela para ajudá-la engrossar a comissão. Sábia esta, com ela o filho não ficaria sozinho em casa após a escola, sem atividades, ocioso, sobrando tempo para a procura do mundo das drogas, do roubo, do álcool, da prostituição e por que não, o mundo dos desempregados.
Entendo, que o erro aqui não é da mãe, sim dos nossos governantes, sem políticas públicas para os jovens que nesta idade, desejam trabalhar e suprirem suas necessidades. Tivesse pelo menos emprego para os pais... Essa gente quer ter voz ativa, cabeça erguida. Ninguém quer estar em estatísticas do fome-zero.Quer mesmo é no final do dia voltar pra casa, colocar a cabeça no travesseiro e saber que o salário está garantido no final do mês, que os compromissos serão resolvidos e a liberdade para fazer outros ou não; mandar no seu destino carregar a sua própria carga, leve ou pesada.
Nessa nossa sociedade, dogmas demais. Quase não se percebe que nessa idade, homem feito.Sabem o que querem, discutem, dialogam; só não decidem por serem menores. Nos debates em salas de aula, nos pátios da Escola, isso se confirma.Já é tempo de tirar da rua tantos jovens (de dezesseis, dezessete anos) a brincar sem espaço para brincar, sem saber do quê brincar, amontoados em várias esquinas duvidosas ou nos fliperamas da vida, de efêmeras alegrias.
Juraci de Oliveira
Pirapora MG
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