"Salve Sua Vida" - Berenice Heringer

# Érika Jong foi um das escritoras que li com deleite na década de 70. Creio que seu livro é autobiográfico onde ela conta as peripécias com seu marido chinês-americano, psicanalista de renome. Não escrevi que o cara é sino-estadunidense pois, hoje em dia, só se pensa em badalações, mesmo que os badalos estejam inertes. Érika refere-se ao seu herói descrevendo-o como se fora um semideus de pele amarela, sem nenhum pêlo no corpo. O Menino Dourado em tamanho grande, completamente glabro, palavra que adorei, naturalmente, correndo logo ao dicionário. Isto é, sem barba nem bigode, liso e escorregadio. O termo refere-se aos órgãos dos vegetais que não têm penugem. Poderia reler o livro, o que me daria mucho gusto, pero yo no lo tengo em mis manos, hasta la hora! O título é um tapa na moleira. Quem perde a chance corre atrás da revanche! Inventei esta tirada agora, uau!

O sobrenome Jong é chinês e o jota não é procunciado, como em Jung, que a gente lê iúngue. Também em língua alemã o jota tem som de i, Josef, o monstro austríaco é Iôssef, (ele não merece ser lido e já foi exaustivamente analisado por todos nós), como também em latim, que não possui a letra jota.

Mudando agora de pau prá graveto...

Se arrendimento matasse, mais da metade da população mundial já teria sucumbido. Levando-se em conta que 3% da comunidade em geral e 30% da população clínica são de psicopatas, cuja personalidade não se comove, não sente culpa nem remorso, chegamos à conclusão que só o vasinho de violetas-rosa fica afogado em lágrimas. E que tristezas não pagam dívidas. Mas o ditado mais genial que ouvi ultimamente é: suspiro de vaca não arranca estaca. Temos aí uma rima soante, perfeita identidade de sons a partir da sílaba tônica...Mas o noticiário da TV me desvia do meu caminho poético neste instante.

Duas mil e quatrocentas presidiárias do Complexo Feminino de Santana, no Carandiru. pressionam para que Anna Jatobá saia de lá. E o camburão se movimenta e segue com ela para Tremembé. Uma onda avassaladora vai engolfando tudo. Uma Catarse Gigantesca toma de assalto essa platéia no Brasil todo. Os guardiães de uma criança de pouco mais de cinco anos se transformam em seus carcereiros, algozes e executores. Mas signior nardoni não perde a pose e continua com a farsa bem ensaiada.

Na leitura labial, enquanto o pai da menina era algemado, ficaram evidentes a impáfia e o orgulho espiritual desse jovem desnorteado: "Vou sair desta!

Todo mundo abalado. Alguns se preocupam com a incolumidade dos indiciados. Em qual momento eles resguardaram e se deram conta de que o sopro de vida daquele pequeno ser indefeso seria sufocado? Agora, restringidos em suas regalias de ir-e-vir, sob a tutela do Estado, debaixo da pata aplastante da Lei, os choros e rangeres de dentes se perdem, atenuam-se e desaparecem no remoinho incessante da Roda do Infortúnio. O que mais nos horroriza no quadro todo é a negativa, a omissão, a cumplicidade das famílias que tentam encobrir os atos praticados e teimam nas trans-versões dos fatos. Salve sua Vida!

Qualquer um pode ser apanhado na roda dos enjeitados, rejeitados e párias.

Os cúmplices em delitos e transgressões começam rapidamente a se odiar mutuamente, um ódio implacável, misto de horror, rejeição e nojo, todos são co-partícipes num despencamento bi-unívoco ou plurianual numa famélica moenda trituradora.

Vila Velha, 9 de maio de 2008.

Berenice Heringer
Enviado por Berenice Heringer em 12/05/2008
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