Sangria Atada - Berenice Heringer

No final da década de 80, com a queda do muro de Berlim e o desmanche da URSS, descobriu-se e denunciou-se um escândalo nos meios esportivos na recém-liberta Alemanha Oriental, que escapulira de sob o tacão das botas soviéticas, agora reintegrada à parte ocidental. Todos os atletas de lá competiam sob o efeito de drogas anabolizantes, estimulantes e aceleradoras do desempenho. Os medalhistas, recordistas, detentores das excelentes performances serviram de cobaias para médicos, bioquímicos, laboratórios e fabricantes de remédios. Como tudo lá era proibido, ficou tudo escondido...

E já que a maioria dos estimulantes era os hormônios do tipo testosterona, o estrago maior foi no time feminino. Os homens, talvez virando kingskongs, mesmo os adolescentes, pareciam não muito desviados do padrão usual. Nas jovens atletas, meninas e adolescentes, o estrago foi brutal e irreversível. Algumas viraram homens. Claro que as drogas não faziam vulva virar pênis. Mas o resto... Nós vimos aqui, recentemente, a Rebeca Gusmão, tão espadaúda, despeitada, uma virago, aposto que até raspando os pêlos do rosto como os travecos que o Bolaldo contratou. E fazendo xixi em pé, marca-registrada dos machos. A nadadora perdeu títulos, medalhas, faixas e o futuro como atleta.

Lá na Alemanha Oriental, além da atleta que virou homem, todas as outras entraram em menopausa precoce, pararam de ovular e de menstruar e tiveram suas carreiras arruinadas. Além dos distúrbios alimentares, anorexia, bulimia, desnutrição, raquitismo, também as psicoses. Não foi divulgada a estatística dos suicídios.

Aqui, vou entrar de sola nos exploradores de jovens e, ao mesmo tempo, fazer uma reflexão sobre a ingenuidade, a desinformação, a crendice, as superstições e o romantismo de adolescentes e jovens, com ou sem dopping. A menstruação na mulher continua sendo um tabu. Mesmo sendo livres os anúncios do "sempre-livre". Em algumas culturas há uma segregação das fêmeas "naqueles-dias". Elas se tornam intocáveis, mas também intocadoras, isto é, não podem pôr as mãos ou os olhos sobre comidas em preparo, plantas, animais. Na roça dizia-se que o "sangue que não desce pode subir para a cabeça", fazendo a pobre vítima enlouquecer. Além de não menstruar, o que também é uma maldição, a jovem com amenorréia recebe a pecha de culpada nessa inquisição fajuta (e doméstica) e corre o risco de arder na pira. Não perdôo jamais essa des-humanidade que acredita e pratica rituais fanáticos e supersticiosos, típicos da obscurantista era medieval, mesmo aqui em nosso Rincão atrasado que nem teve idade média. Mas nos sobram as heranças indígenas, africanas, jesuíticas e xamanísticas. Os candomblés e terreiros de macumba.

Quase nenhuma mulher sabe o que é um fluxo menstrual. Estuda em Biologia mas não quer saber. Não é bendito nem maldito. Esta é uma posição maniqueísta. O fluido carmezim mensal é só um descarte da natureza, um preparo a uma eventual fixação e nidação do óvulo, em caso da fertilização por espermatozóides nas trompas de Falópio. Se não há a cena e os atores, o cenário se desfaz e é descartado. Aqui não entrarei nos pormaiores de hormônios, TRH, TPM, mas sim que esse "incômodo mensal" pode ser evitado, sob a supervisão de um médico ginecologista competente, tipo o Dr. Elsimar Coutinho, pioneiro pesquisador brasileiro/baiano, autor da obra A Sangria Inútil, revolucionária... As mulheres colocam silicones, DIUs, megahairs, piercings, submetem-se a perigosíssimas intervenções, algumas se anabolizam, mas continuam sem saber o que é o mênstruo. Ou têm preguiça de pensar, ou não sabem que podem arejar a cabeça e "Atar a Sangria", até então desatada. VV,09/05/08.

Berenice Heringer
Enviado por Berenice Heringer em 12/05/2008
Código do texto: T986071