O GASPARZINHO DO SHOPPING

O dia era perfeito para o que havíamos planejado há dias.

Estando lá ansiosos e expectantes, não tirávamos os olhos da porta de entrada da praça de alimentação do shopping. “Elas entrarão agorinha e com toda minha experiência e cavalheirismo, temos ainda de cinco a dez minutos para esperarmos. Elas adoram causar isso na gente...” Foi meu companheiro amiguinho que disse isso e logo perguntei: “então se passar de dez minutos eu já posso fumar convicto de que elas não vêm, né?”. Olhei bem ao meu lado e percebi que as coisas estavam melhores do eu esperava, havendo ali lindíssimas garotas e meus dezesseis anos se encaixavam em muitos perfis ali... O som era do magnífico Kenny G e os trocados no bolso me garantiriam um bom tempo ali, talvez até que se fechasse o shopping - o que jamais aconteceu, sempre pagava o refri da gatinha com a grana do coletivo – a carona era um complemento do assunto do outro dia no contar com muito complemento como fora o “rock na praça do shopping”.

Estava eu acendendo o quinto cigarro (de bale! lembram?) conversando com uma linda mulher, ela devia ter uns vinte e três anos. “Nossa, se eu ficar com ela meu filme tá feito, um cara de dezesseis com uma ‘mina-gata’ dessa de vinte três...” Mas eu não estava conseguindo sair do assunto dos vários ‘vests e concursos’ que ela havia feito e reprovado em um apenas... Mas era bem melhor ficar ali ouvindo o que pouco entendia daquela gata a ficar quarenta e seis minutos e alguns segundos esperando que por “aquela” porta as meninas (tava mais pra Gasparzinhas) entrassem a qualquer momento.

Finalmente ela perguntou meu nome! “Vai demorar, mas vou chegar lá”.

- Udinardo. Muito prazer! e como você se chama?

- Como é que é? – risos. Muitos deles, eram kkkkks mesmo.

- Ah, é brincadeira. Meu nome é Hudy - Soletrei para ela e depois falei: “Carlos. Meu nome é Hudy Carlos”.

-Ah, rsrs me chamo Clemilda Tavares.

Sabe, meu nome é Udinardo mesmo e incontáveis foram as vezes que usei essa estratégia. Devo muito a esse tal de Hudy Carlos a quem eu realmente queria ser. “Udinardo... de menor ainda, acho que dá tempo de tirar o cocô da calçada antes que alguém pise...” Lamentações minhas...

Sobre o nome dessa gata – que já tava me dando era nojo e se a carne desse bicho fosse boa mesmo não haveriam tantos por aí, só atropelados já se foram muitos por debaixo do meu carro – num prefiro falar nada, mas dá pra ver que num fiquei tanto pra trás não, né... e tanto foi que nós conversamos que acabei aprendendo quase tudo da vida dela, por exemplo: quatro filhos, segundo marido, grávida e faltando dez minutos para que se fechassem todas as lojas cuja numa delas seu segundo “maridão” trabalhava.

Notei que meu colega havia ido embora. Tive compaixão naquele momento e me entristeci.

Era eu o último cliente e o garçom me apressava. Já não havia mais som de Kenny G, aliás, som algum além duma lavação de copos... nem amigo, nem a quem rir da minha cara, menos a quem causar-me nojo. Eu era o verdadeiro “Gasparzinho do Shopping”.

O que aconteceu depois, vai dar uma história muito bacana...