ANA DE PIFANO
A introdução da cultura de caju no município de Santo Antônio de Lisboa, anteriormente, denominado Fazenda Rodeador, trouxe, a partir dos anos 80 a independência econômico-financeira de seus moradores, melhora na qualidade de vida e o inusitado crescimento da população rural, como aponta Clodovis Boff. (1993). Mas Epifânio não viveu o suficiente para desfrutar a regalia de uma mesa farta. Com a casa cheia de filhos pequenos, trabalhava alugado, puxando rabo de enxada nas propriedades dos mais abastados, para uma ínfima quantia pelo trabalho diário que, nem sempre conseguia com freqüência.
A sogra era viúva e havia recebido em herança uma estreita faixa de terras, tão pequena, que seria impossível dividi-la entre os oito filhos, cedeu, no entanto, a cada um deles uma tirinha para construírem suas casas. Ali, Pifano plantou meia tarefa de mandioca e durante dois anos esperou a natureza mandar sol e chuva no tempo propício ao desenvolvimento da lavoura.
Tudo pronto já podia beneficiar a mandioca, mas não possuía oficina de farinha para fazer a desmancha. Pôs então um chapéu de palha na cabeça e pensou: “Vou arrendar o aviamento de Candim”
- Aonde você vai, Pifano?
- Vou na casa de Candim, alugar o aviamento para a desmancha.
Ana chamou o filho mais velho e cochichou-lhe ao ouvido. “Antônio, acompanhe seu pai e me conte o que acontecer nessa ida à casa de Candim. Preste atenção e me conte tudo. Quando você chegar eu lhe dou uma colher de açúcar”.
Antônio acompanhou o pai, passo a passo, atento aos fatos. Luizinha de Candim serviu-lhes coalhada escorrida com rapadura e assim que matou a fome, Pifano pôde tratar de negócios.
- Candim, eu vim aqui pra você me alugar o aviamento por um ou dois dias, minha mandioca tá no ponto de coiê.
Foi fácil combinar o arrendamento, pois o dono cedeu tudo de graça, apenas na condição de o arrendatário pagar o óleo que seria consumido pelo motor. Ansiosa, Ana aguardava o retorno do marido e do filho.
- E aí, Antônio? Candim tava em casa.
- Tava não mãe. Ele tava no curral, mas assim que nós comemo a quaida que Luizinha deu pra nós, ele chegou.
No dia combinado, Pifano fez a desmancha da mandioca no aviamento de Candim e vendeu o produto no mercado da cidade. Sabendo da notícia, um amigo perguntou-lhe:
- Pifano, a desmancha deu lucro?
- Dabo, dabo! Depois que paguei as conta só fiquei com o barue do motor no ouvido.
CRÍTICAS/COMENTÁRIOS
Mensagem referente ao texto: ANA DE PIFANO
Ana Carvalho
Você escreve com maestria, suas colocações regionais são incríveis, você é para mim um professor. Adoro seus textos, elaborados com graça e seriedade de quem sabe escrever.