...VOU POR AÍ A PROCURAR...

Eu quero viajar, entrar em contato com outras culturas que não sejam a minha, para valorizar minhas palavras, para observar novas cores sobre os desenhos que eu já havia colorido, porque confrontar é sempre necessário em minha modesta opinião. Eu quero ir ao Chile, para ver de perto um povo que sofreu pelo mal da censura tanto quanto os nossos rebeldes sofreram por aqui. Quero ir as alturas dos montes andinos para sentir o peso do ar, para que eu possa aprender a respirar melhor e ver o mundo lá de cima. Eu quero atravessar os mares e ver como é a vida do mundo envelhecido. Eu preciso aprender a amar as coisas que eu não entendo, e preciso me afastar dos meus amores compreensíveis que tanto fazem mal à minha vida. Eu já passei por ilhas e pontes em dias que não fui a lugar algum. Vou aproveitar para dar novos sabores ao meu paladar aguçado, mesmo sabendo que os melhores temperos do mundo estão em nosso imenso quintal. Eu sorrio quando escuto as palavras ininteligíveis pronunciadas por lábios que apesar de não se diferenciarem dos meus, produzem sons que em nada se assemelham ao meu canto. E essa diversidade de músicas e ritmos me seduzem a ponto de não ter vontade de ficar parado. Meus pais sempre souberam que eu nunca ficaria em casa, mas eles sempre tiveram a certeza de que traria meses de novidades para eles. Meus amigos sabem que fico muito pouco ao lado deles, mas eles também tem a certeza de que levo eles para todos os confins do universo em que me meto. O que na primeira vez foi uma tentativa de fugir do meu próprio mundo, agora é uma busca por encontrar as parcelas de vida pura que não soube aproveitar antes, e quando o coração estiver cheio, volto para os braços das pessoas que sempre me ajudam a manter o equilíbrio. Eu sempre volto!

"...deixe-me ir,

preciso andar

vou por aí a procurar

rir pra não chorar..." CARTOLA