Mãe é mãe

De onde vens assim? Tão suada, rosto maltratado, olhar assustado...

Bem sabes que com tua ausência passo noites e noites acordada, preocupada. Jesus sabe, preocupada com teu destino.

De onde vens? Madalena, Madá, minha Madá... Teu pai disse que não te abençoa, que não te tens mais como filha, oh que desgosto!

Madalena tu tens apenas 17 anos, e teu pai te deserdou, te deserdou minha filha.

De onde vens mesmo...? Mas veio assim, a pé, sozinha... Cadê os calçados?

Madalena só me responde uma coisa; eras tu... Que desgosto meu Jesus, nem consigo falar...

Madalena, todo carinho do mundo te ofertamos, sei, faltava luxo, roupas de brilho, perfumes caros, sapatos de televisão... Mas o principal te ofertamos, o amor.

Me responde;

Eras tu... Nas ruas? Nas esquinas?

Eras tu... Cheia de batom, de cabelo solto?

Eras tu... No cabaré?

Jesus, que vergonha passamos Madalena, eu e teu pai não podíamos sair na rua. E em pensar que te vejo ainda menina correndo na sala de visita a quebrar por descuido os brinquedos:

__ Madá cuidado pra não cair.

__ Tá bom mainha. Dez minutos depois já estavas tu no chão chorando por que havia batido o joelho.

__ Bem que tua mãe avisou Madalena. Falava teu pai levantando-se da cadeira de balanço, e colocando na mesa ao lado o rádio de pilha que até então tinha na mão. E te apanhando no colo: __ Agora vamos, vamos se lavar, fazer a tarefinha e dormir muleca, combinado?

__ Eu já fiz a tarefa de casa painho, a tarefa que a tia mandou.

Madalena, minha Madá... Porque cresceu assim tão rápido!

... agora quero eu a tranqüilidade dos anjos, prefiro assim, a ver-te sem casa, sem roupas, sem vida. Prefiro mesmo a saudade do teu pai que amo, a ver-te sem vida.

Responde Madalena, fala algo;

Eras tu... Cheia de fome?

Eras tu... Pedindo abrigo?

Tens meu colo minha menina, mas não temos mais a presença de teu pai. Ele se foi de casa quando falei que te abençôo, e que te aceito de volta...

Te aceito, pois fazes parte de me tua alma, a alma que de amor e vida alimentei.

Vem, não precisa mais chorar, não chores... Mãe é mãe e eu te amo Madá.

zilma lopes
Enviado por zilma lopes em 10/05/2008
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