OPRIMIDOS E OPRESSORES
A lei de Talião ainda prevalece entre os homens, talvez disfarçada com o nome de legítima defesa, ou coisa semelhante. O “olho por olho e dente por dente” permanece no Código Civil e no Canônico: “É direito, e também obrigação do cidadão, defender sua integridade física”, mesmo que para isso, não havendo outro recurso, tenha que levar à morte seu agressor. Mas como defender daqueles que atentam contra a vida sem que se tenha também uma arma? Não há dúvida: quando o oprimido alcançar o poder oprimirá o opressor. Perdoa e serás perdoado, liberta e serás libertado. Isso pode funcionar no plano divino, mas, na realidade humana, quase sempre é o contrário: perdoa e não serás perdoado, liberta e serás prisioneiro do libertado, pois a boca que beija é a mesma que cospe a face do justo e a mão agraciada com o óbolo pode ser a mesma que impõe uma arma contra o bom samaritano.
Quem não tem saudade do tempo em que se podia ir e vir. Andar sem medo pelas ruas de qualquer cidade, dormir com janelas abertas... quem não tem saudade dos tempos em que somente o dono, podia tanger os bens tangíveis? Quantas síndromes aportam o coração do homem contemporâneo, quanta fobia!
Os filhos dependentes se rebelam contra os pais, dão um grito de falsa independência e provocam seu aborto do convívio social, espancando e matando os genitores para arrancar deles o dinheiro das drogas que consomem. Quando os cães andavam soltos, temia-se apenas a hidrofobia que poderiam transmitir ao homem, mas a carrocinha recolhe os que ladram, enquanto o ladro continua a assustar provocando as mais diversas síndromes: medo de assalto, seqüestro, bala perdida, enfim, fobia social - não apenas medo de sair de casa, mas medo de tudo – pantofobia. O cidadão do Terceiro Milênio perdeu a cidadania, o legítimo direito de ir e vir e tornou-se prisioneiro de seus medos. Não pode ter arma em casa, não pode fumar em recintos públicos, não pode fumar dentro de seu próprio veículo... mas o bandido pode tudo. Absurdo! A Lei de Trânsito prevê multas a pedestres na rua – simplesmente, ridículo. Por isso, algumas leis brasileiras não “pegam”, tornam-se como a lei mosaica – impossível de serem cumpridas. Os gastos com Segurança Pública estão embutidos nos impostos recolhidos aos cofres do governo, portanto, combater o tráfico de drogas e os crimes por motivos fúteis é um desafio mais relevante do que multar pedestres ou fumantes que dirigem seus carros particulares.
Nunca as placas luminosas informando a temperatura e as horas foram tão consultadas quanto agora. Não só por causa do preocupante calor provocado pelo aquecimento global, mas, principalmente, para consultar as horas, porque não se podem usar relógios de pulso. Não se pode ter um relógio bom, um celular bom... mas usar tão-somente os descartáveis pelos quais não se interessam os ladrões. Os carros confortáveis passaram a gerar desconforto e medo de assaltado ou roubo seguido de homicídio. Teríamos que usar a insegurança das carroças como medida cautelar de segurança contra roubos e seqüestros? Não, há outros meios alternativos como a blindagem de veículos, mas são caras. Aderir ao transporte coletivo seria a solução, se eles fossem blindados.
Andando a pé pela rua, precisa-se constantemente mudar o itinerário, dar voltas para chegar ao mesmo lugar, chegar vivo, despistando os ladrões como o fazem os animais silvestres para evitar o ataque de predadores. Como estratégia de defesa, caminhamos em ziguezague, atravessando ruas mesmo sem a necessidade de atravessá-las; só para despistar o trombadinha... O cidadão não pode usar relógio, celular, nem arma, mas o bandido usa tudo isso. É o oprimido oprimindo o suposto opressor. É o flanelinha do sinal de trânsito que, em vez de uma flanela, tem agora uma arma na mão.