Esses moços, pobres moços
Edson Gonçalves Ferreira
Quando olho para o ensino superior, hoje, fico triste. Ainda dou aulas. Uma vez professor, sempre professor. Muitas vezes, durante as explicações, perguntei se alguém conhecia a música “Bailes da Vida”, gravada por Milton Nascimento. E, para meu espanto, os alunos respondiam que não, que nunca ouviram falar. E hoje, vendo o Juca Chaves, com toda sua cultura e picardia, no programa do Jô Soares, entristeci-me lembrando de que, atualmente, a cultura musical e teatral no Brasil, infelizmente, está sucatada.
Quando cito Elis Regina, Renato Russo, Adoniram Barbosa, Pixinguinha, Elizete Cardoso, Edson Cordeiro, Chico Buarque de Holanda, Erasmo Carlos, Ivan Lins, Elba Ramalho e outros, muitos outros, muitos jovens dizem que nunca ouviram falar! Alguns até falam com orgulho bobo. Achando que são músicas velhas. Arte não envelhece. Estão pior que a Carolina, de Chico Buarque, que na janela não via o tempo passar. Não ouvem nem a banda passar. A banda não toca para eles, que pena!
Essa moçada linda e que eu adoro tanto, porque a juventude é efêmera demais e, às vezes, eles nem sabem disso, nunca leu Gregório de Matos, nem Castro Alves, nem Carlos Drummond e isso, gente, sem falar de Camões, de Cícero, de Virgílio, de Sheakespeare. E o pior é que, às vezes, muitos professores também não leram quase nada. Aí, diretores de faculdades e especialistas falam que os alunos precisam aprender a interpretar um texto e eu concordo.
No entanto, nenhum professor de português tem uma varinha de condão para, de repente, consertar o estrago feito pela sociedade e escola durante a vida escolar desses jovens. Já escuto alguém me xingando e xingando minha mãe. Eu não disse nenhuma bobagem, a escola é o reflexo da sociedade e vice-versa. Assim, os jovens, quando têm que interpretar um texto, ficam pior que Pedro Pedreiro, de Chico, esperando, esperando, esperando o trem... Não saem do lugar! Eles são os frutos da escola excludente e da sociedade omissa que não cobra do Ministério da Cultura apoio para a cultura mesmo, não é?
Ah, esses moços, pobres moços, vão penar demais depois, porque a sociedade é madrasta. Ela finge que não vê a decadência da cultura, seja na Música, na Literatura, no Teatro. Não estou falando demais, veja na televisão só tocam: o “tcham”, o “axé”, a música “country” (na verdade é música caipira ou sertaneja). Nada contra a música caipira e, nesse gênero, existem peças lindas como “Luar do Sertão”, “Tristeza do Jeca”, entre outras) e, atualmente, tem a praga do “creu”, cruz credo, ave-maria!
Aí, depois, quando os jovens se formam e vão para o trabalho, têm que enfrentar concurso, perdem para uma minoria que freqüenta os colégios particulares caríssimos e as universidades federais, ou seja, os bolsões do poder. Esses, geralmente, têm uma cultura clássica melhor, talvez não igual a nossa que brigamos pela liberdade de expressão durante a ditadura. Nós, até hoje, caminhamos e cantamos seguindo a canção enquanto muitos jovens, não todos, pelo amor de Deus, não estou contra os jovens, estou no meio deles,
não sabem o que estão perdendo!
É preciso que as escolas e a imprensa voltem a tocar música verdadeira, valorizando a nossa cultura popular. Música não tem idade. E claro que eles conhecem Gal Costa e Maria Bethânia, mas só de nome... Não têm tempo para ouvir os acordes de um “Carinhoso”, a beleza lírica de um “Caçador de mim” e, meu Deus, nunca cantaram “Saudade, palavra triste, quando se tem um grande amor, na estrada longa da vida, eu vou chorando a minha dor...” E olha, minha gente, que essa última música é música caipira, sertaneja, porque, country, me perdoem só existe nos Estados Unidos! Ai, meus queridos moços, pobres moços, leiam, com carinho, essa crônica, porque ela só foi escrita para alertar vocês para a importância de se ter cultura. É preciso ler, ler, ler.
Divinópolis, 08.05.08