Sexta-feira 13
Hoje estive lendo um texto de nosso querido recantista Luiz Guerra. Sua crônica mencionava o dia de hoje, e crenças que se ligam a ela.
Transportei-me para minha infância recordando-me de uma passagem na época em que tinha uns dez anos, se tanto.
Estava eu as voltas com as histórias e casos que rolavam na escola por ocasião da semana do folclore. De Saci Pererê até mula sem cabeça, as lorotas que ouvia deixavam meus cabelos quase em pé.
Tão assustada estava que corri até a vovó. Sendo muito apegada a ela, aprendia muito com sua conversa deliciosamente rica de fantasia e aventuras, e a tinha como a mais sábia das criaturas, pois não havia o que eu perguntasse que ela, prontamente, não me respondesse. Para uma menina curiosa e sonhadora, não poderia haver melhor companhia.
Mas naquele dia, cheguei esbaforida em casa, e fui ao seu encontro com os olhos arregalados e o coração aos pulos.
Tão logo a encontrei já fui despejando minhas dúvidas, receios e pedindo que ela me dissesse o que tanto era verdade nisso tudo.
Lembro-me que percebi em seu olhar um brilho diferente e em seus lábios, sempre tão rosados embora não usasse batom, um sorriso contido, como se relutasse em deixá-lo manifestar-se. Mas o medo era tanto que não dei maior atenção ao fato. Então ela me disse o seguinte:
- Cotica (era assim que ela me chamava) fique sossegada e nada tema. Deus protege as crianças e os tolos.
No mesmo instante senti um alívio tão grande que me atirei sobre ela, enroscada em seu pescoço e a beijava sem parar... Estava salva! Era apenas uma menina.
Os anos se passaram e até hoje quando algo me assusta, lembro-me desta cena e penso comigo:
Fique fria Priscila, Deus protege crianças e tolos. Já não sou criança, mas sou tola o bastante para ser beneficiada.
E nunca, mas nunca mesmo, a proteção me faltou.