O outro lado do governo

Abundam falas e imagens vindas de setores governamentais, sinalizando sobre o sucesso como um todo das ações realizadas por este próprio governo. A publicidade é forte e competente. Gastam-se rios de reais para se financiar essa oferenda pouco limitada das propagandas nos jornais, rádios e TVs do país e até fora dele. Os faniquitos podem ser causados em muitos de nós, pagadores de tributos, quando passamos a saber acerca das verdades que habitam o outro lado desse mesmo Estado faminto por arrecadar cada vez mais.

Até março de 2008, o déficit brasileiro nas transações correntes foi de dez bilhões e oitocentos milhões de dólares. Uma imensa e vultosa importância para um país que mais do que nunca necessita poupar divisas para o investimento necessário na emergência desenvolvimentista de sua realidade ora vivida. É um dinheiro que sai pelo ralo do tesouro nacional e não mais volta.

As remessas de lucros que o país permitiu, legalmente, que fossem feitas agora em março, comparadas ao mesmo envio em dezembro de 2007, foram de quatro bilhões e trezentos e quarenta e cinco milhões de dólares. Foi, portanto, maior do que a marca alcançada com a mesma operação feita anteriormente e em 39 por cento. Esse recorde derrubou o anterior observado em dezembro de 2007. As contas externas do Brasil atingiram seu pior resultado em aproximadamente dez anos de história. Isso é péssimo, alem de deveras preocupante.

Desde outubro de 1998 que não se tinha um déficit tão grande (4,29 bilhões de dólares) nas transações que contabilizam a compra e a venda dos bens de serviços do Brasil para com outros países. Esse é o sexto mês consecutivo no vermelho (março de 2008). Desde 2002 não se via tão mórbido resultado.

O país não informa esses números com a mesma desenvoltura que faz com a inauguração de suas obras. Carnavaliza discursos em detrimento de seu silêncio vicioso em traduzir essa outra realidade fática de suas ações. É preciso pôr as ações do governo em maior transparência social. Vivemos um tempo novo. A República deve estar mais compromissadamente próxima dos seus cidadãos.

O governo Lula deve adensar seu noticiário à nação com mais vultosas informações acerca das finanças do Estado brasileiro, seus gastos, suas dívidas a curto, médio e longo prazos. A sociedade deseja e exige ser melhor informada. Na hora de pagar as contas deficitárias serenos nós, seus cidadãos, que deveremos pagar o rombo.

Não vejo nenhum ineditismo nesse governo em informar a menor a seus cidadãos, mas, faniquitos à parte, a assessoria de imprensa do Estado brasileiro deve manter o país, de Norte a Sul, de Leste a Oeste, muito bem informado. A situação do país navega por dois pólos opostos: o que sabemos cotidianamente e que detém muitos confetes e serpentinas à sua volta e o outro, mais obscuro, menos traduzível, que vive às escondidas do olhar social, crítico ou laico. É hora de sabermos bem mais sobre o corpo e a alma do Brasil que sabemos pelas notícias e do outro, mais real e baço ao nosso entendimento.