Maio inspirador


     Fiz o possível para não escrever sobre maio. 
     Porque não queria voltar àquela velha história de descrevê-lo como o mês das flores, das noivas, das mães e da Virgem Maria.
      Sobre esse maio muito já foi dito, e, geralmente, com inenarrável beleza.
      Sabia, entretanto, que maio sempre desperta nobres e ternas inspirações.
        Pra não correr o risco de escrever sobre o "óbvio ululante", decidi chamar Olavo Bilac para colaborar comigo, participando do meu site.
     Lendo, pela segunda vez, o ótimo livro de Fernando Jorge sobre a vida e  a vida e a poesia do poeta de Ouvir estrelas, encontrei uma preciosidade: o primeiro soneto de Bilac publicado na imprensa, em 1883,  intitulado Manhã de maio.
     Vou transcrevê-lo, a seguir. 
     Verão que não são versos falando de maio. Mas a beleza de cada um deles indica que os ares marianos  o ajudaram a escrevê-los.

     "Lá fora, a natureza, alegre e verdejante,
      Expande-se ao calor do sol da primavera...
      Gorjeia a patativa em canto inebriante,
      E como que sorri contente o azul da esfera.

      Parece que a campina, esplêndida e brilhante,
      Em vestir-se de rosa e de jasmim se esmera, 
      Como a noiva gentil que, trêmula e hesitante,
      Com cuidado se veste e o lindo noivo espera...

    E enquanto, em frente a mim, duas pombinhas mansas,
    Mais brancas que a alma ingênua das crianças,
    Conversam sobre o amor, beijando-se em delírio...

    Eu penso em ti, compondo esta canção florida,
    Que quisera enviar-te, oh! minha flor querida!
    Escrita a tinta azul nas pétalas de um lírio."

     O autor de Vida e poesia de Olavo Bilac,  Fernando Jorge, admite que, neste soneto, "há pieguice".
     Acostumei-me, embora com  relutância, a respeitar o ponto de vista dos outros. Mormente quando ele resulta numa crítica literária. 
     Com relação a este soneto, ouso discordar do ilustre biógrafo do Bilac. Pela doçura e singeleza dos seus versos, aplaudo-o, sem temores.  
     Eles foram escritos, vale lembrar, em uma manhã de maio. Portanto, sob o clima de ternura que, redigo, sempre envolve o mês mariano,  fazendo-o um mês diferente dos demais...
     

    
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 10/05/2008
Reeditado em 05/12/2019
Código do texto: T983327
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