Obanha

- É Obanha mesmo? Não seria a banha?

- Não, é Obanha.

O que será isso hein?

Quando mudei para o sítio São Luiz Gonzaga, em Cachoeiro de Itapemirim, meu pai passou a criar galinhas, porcos e cabritos.

Da criação de porcos nasceu um porquinho que era a minha paixão, daqueles da raça Baé.

Eu e meus 06 irmãos adorávamos o porquinho.

Como vocês sabem, crianças adoram fazer xodó nos bichinhos, não é mesmo? Comigo não foi diferente.

Ele foi crescendo entre nós, se afastou dos outros irmãozinhos e passou a transitar em nossa casa por todos os lados. Parecia mais um cachorrinho do que um porquinho.

Todos os dias, quando mamãe ia para cozinha, lá estava ele. Deitava-se sobre as patinhas dianteiras e olhava o corre corre da mamãe para dar conta do almoço ou do jantar para os 07 filhos.

O porquinho não crescia, só engordava. Engordou... engordou...engordou tanto que a sua pela não agüentou e começou a rachar.

Obanha era uma gracinha. Nós dávamos banho nele, colocávamos laço de fita em seu pescoço, ele se achava, demonstrava gostar de tudo , pois ficava quietinho, aguardando a conclusão da sessão glamour que proporcionávamos a ele.

Um belo dia, mamãe disse para o papai:

- Luiz! Luiz! Não temos banha para fazer comida, na época pouco ou quase nunca se usava óleo.

Papai tranquilamente disse:

- Juju, olha o banha aí, apontando para o nosso querido porquinho.

- Onde?

- Está ali te olhando, Juju.

Parecia que o porquinho estava adivinhando a intenção do papai, pois olhava com olhar triste para mamãe.

- Nunca, Luiz!! Não tenho coragem de fazer desse bichinho, torresmo e banha.

O tempo passou, mas chegou a triste hora.

O porquinho virou torresmo e banha, pouca carne tinha. Mamãe chorando e nós também, temperou a pouca carne que rendeu do porquinho e colocou na panela.

O assado cheirava gostoso. Quanto mais exalava o cheiro gostoso, mais lágrimas saiam dos nossos olhos.

Chegou a hora do almoço, mamãe serviu a mesa como de costume e junto aos outros pratos lá estava o assado.

Quando vimos que Obanha, agora, se resumia a mais um prato sobre a mesa, a choradeira aumento, ninguém conseguia comer.

Naquele dia nenhum de nós almoçou e nem jantou, até mesmo o papai se comoveu com a cena e nos acompanhou na decisão de não fazer as refeições.

É difícil esquecer o nosso porquinho de estimação.

Até hoje, tento encontrar um porquinho como aquele, mas nunca mais tive esta alegria , ele é insubstituível.