O Nascimento da Primeira Biblioteca de Cachoeiro. Eu vi!

Ainda criança com meus seis anos, frequentava a casa de D. Julitinha, localizada na Rua Cel. Borges, perto do Sr. Jordimiro. A cada 02 horas passavam sobre a orientação da idosa professora, meninos e meninas em busca de alfabetização, eu era uma das crianças. Na época havia um Jardim de Infância perto da Praça Jerônimo Monteiro, porém ficava longe da rua Cel. Borges.

Para eu ir estudar na casa da idosa professora, minha mãe penteava os meus longos cabelos loiros, fazia rabinho de cavalo. Eu, feliz da vida saia balançando os meus cabelos. Ficava toda orgulhosa quando Alguém me via no caminho e me chamava de cachinhos de ouro.

No trajeto havia janelas com bonequinhos para prendê-las e mantê-las abertas. Para mim era uma festa derrubar os bonequinhos, fechar as janelas e sair correndo para não ser pega., Adorava fazer esta travessura. Enquanto eu corria, os moradores das casas, gritavam: -Volte aquiiiiii-iiiiiii!, menina sapeca

Eu seguia o meu caminho sem olhar para trás. Mesmo como medo, voltava a repetir o ato nos dias subsequentes. Na época já estava descobrindo o mundo da leitura.

O medo de ser pega e o cansaço da correria eram logo aliviados, quando chegava em casa e encontrava os livros que me pai arrumava nas estantes. Ele com muita sabedoria, colocava-os de forma que pudéssemos pegá-los. Tinha o cuidado deixá-los sempre abertos. Ali estava um mundo mágico de letrinhas e gravuras. Ainda sem saber ler me encantava com tudo que via. Minhas irmãs mais velhas já se deliciavam com a leitura, o que me causava uma inveja gostosa. Elas sempre liam os clássicos infantis: Bela Adormecida, Peter Pan, Branca de Neve, João-zinho e Maria e as maravilhas de Monteiro Lobato.

Papai só tinha a 5ª série do 1º grau e a minha mãe a 2ª, mas sabiam que o hábito de ler era muito importante, por isso procuravam nos introduzir no mundo maravilhoso de sonhos e magias.

Meu pai não gostava que lêssemos histórias em quadrinhos, mas a minha irmã Dora, sempre muito rebelde, de vez em quando era pega por ele, com uma fotonovela, aí o tempo fechava. Esta proibição me causa até hoje, algumas dificuldades em lidar com histórias em quadrinhos.

Papai e mãe achando que a nossa biblioteca não deveria ficar fechada em nosso mundinho, no aconchego do lar, resolveu alugar uma garagem embaixo da casa do Sr. Zé Turbay e levar todo o nosso acervo para lá. Sentiam que deve-riam proporcionar às outras crianças o que nos proporcionavam. Para atrair a criançada, papai colocava discos de histórias para tocar, distribuía balas e picolés.

A notícia daquele novo espaço se espalhou no bairro e a cada dia aparecia mais um sócio e assim aumentavam leitores mirins. Como me deliciava com tudo !!! Principalmente com a disposição dos livros que nem sempre era a mesma. O livro que em um dia estava aberto em uma página exibindo uma bela figura, no outro dia já era outra página e outra figura. Lembro-me de um livro grande de capa azul onde havia a figura de uma menina tomando chocolate que saía da bica e também das telhas feitas de biscoito de umas casinhas lindas, lindas. No jardim da casa havia um girassol feito de creme com chocolate. Imaginava-me naquele cenário, podendo me servir de todas aquelas delícias.

Foi assim que meu pai, meu herói, me amigo, criou a primeira biblioteca de Cachoeiro de Itapemi-rim, a Biblioteca Itamirim.

Só quem frequentou a maravilhosa biblioteca infantil, sabe da riqueza que havia lá. Os que se deliciaram dos bons e belos momentos no espaço mágicos, têm riquíssimos depoimentos a dar.

Luiz Gonzaga de Oliveira, um herói, com pouca instrução, com muito conhecimento e sabedoria, foi ele o causador da construção de grandes cidadãos, líderes políticos, escritores e doutores da cidade de Cachoeiro de Itapemirim.

Yara Lucia de Oliveira Ponti-ne.