Cães são Anjos
Achei por bem escrever sobre a minha grande paixão por cães, um sentimento imenso que começou num misto de medo e desejo. A minha mãe sempre teve medo de cachorro, não sei bem por qual motivo. E essa neurose estava sendo passada pra mim, quando eu era apenas uma criança. Constantemente eu ouvia dela: “Cuidado, o cachorro pode te morder”.
Mas quando a Preta vinha me visitar no portão, eu pensava: “Como é que pode um serzinho tão lindo e com esse olhar tão dócil, morder alguém?”. A Preta era uma das vira latas de uma vizinha que ajudava cães de rua. Ela andava solta ali pela rua e volta e meia se plantava na frente da nossa casa. Era muito meiga, gostava de me fazer carinhos e me proteger. Eu batia altos papos com a cadela. Eu dentro do pátio e ela fora, do outro lado do portão. E quando eu entrava, logo vinha minha mãe pedindo pra que eu lavasse as mãos pra não pegar doença de cachorro. Mal sabia ela que depois de adulta eu seria uma protetora voluntária, acostumada a pegar cachorros doentes.
Enquanto a Preta era o meu modelo de cachorro ideal, a minha outra vizinha tinha um poodle, o Boomer. Acho que ele não gostava de crianças, ou sentia que eu não confiava muito nele, pois às vezes eu o pegava rosnando pra mim. Eu sempre tive um pé atrás com o animal. Ele era bonitinho e tudo mais, mas não tinha aquele olhar amoroso e inofensivo com o qual a Pretinha me presenteava. E eu nunca chegava perto dele sozinha.
O tempo foi passando e eu sempre dizendo para minha mãe o quanto eu queria ter um cãozinho. Mas eu sabia que ela não gostava, tinha medo, e que não concordaria. Assim, fui distribuindo meu amor aos cães de amigos. Tive uma paixão pela Lili, a cocker de uma amiga da família. Eu a vi somente uma vez, mas a cadela era a coisa mais amável e linda do mundo! Era tão bom tocar nela, toda fofa, toda cheirosa.
Até que, uns dois anos antes de me casar, o cachorro da família do meu marido teve cria com uma cadela da vizinhança deles. Ele era um mestição de labrador e ela uma mistura de cocker com basset hound. Nasceram uns nove filhotes lindos. Um deles, a minha flor, que vive até hoje comigo e tem o meu amor garantido pra sempre: Lara. Ela tem a maior pinta de labrador, mas um labrador anão. Ela ficou baixinha e fofa como um basset hound, mas amarelinha e com cara de labrador. Foi o meu primeiro contato diário com um cachorro, um animalzinho meu, pelo qual eu me responsabilizei totalmente.
Mais ou menos na mesma época, entrei para um grupo de proteção aos animais de rua e passei a ajudar cães e gatos abandonados. Às vezes hospedo algum cão ou ninhada de gatinhos em casa e os cuido e esterilizo até serem doados. Às vezes ajudo com doações, às vezes simplesmente ofereço um carinho e um punhado de ração a um cão de rua.
Hoje a Lara continua linda aqui conosco e tem um amigão, o Asus, um dobermann preto, maravilhoso, carinhoso, dócil, brincalhão. São meus dois eternos amores, meus protegidos, meus amigos, meus filhotes, meus anjos.