Minha Querida Mãezinha

Dia das mães! Dia de fazer homenagens a Ela. A todas Elas. A essas senhoras simpáticas, amorosas, bravas, calminhas, amorosas, ansiosas, confiantes, alegres, amorosas, tristes, protetoras, nervosas, amorosas, super-protetoras, desligadas e amorosas. Eu já disse "amorosas"?

Ah! As mães! Ah! A minha mãe! Sete filhos, duas noras, três ex-noras, um genro (mea culpa, mea culpa, mea tão grande culpa), irmãos, sete netos (nenhum meu!! Ufa!!), sobrinhos e até algumas empregadas domésticas que ela adotou durante sua vida toda. Sempre pronta a dar um apoio, um consolo, um dinheirinho. Conselhos, claro, que toda mãe sabe tanto do mundo que seria egoísmo não compartilhar. E as dicas de remédios? Minha avó tinha uma predileção pelo querosene. Até o cabelo ela lavava com querosene. Já a mamãe é mais volúvel. Numa época, era o Doutorzinho, um gel para massagens a base de arnica. Qualquer ziquizira, de artrite a dor de garganta, lá vinha ela com o Doutorzinho. Mais tarde, ela descobriu o soro fisiológico. Cura de ressaca a disenteria, desentupindo nariz e hidratando queimaduras. Ela também tem algumas soluções que são mesmo geniais. Você sabia que Gelol é ótimo para aliviar a coceira provocada por picadas de inseto?

Rigorosa, primou pela nossa educação. Com seu chinelo pesado, fazia di-ding-di-dong nos nossos bumbuns quando não andávamos na linha.

Não conseguiu vencer todas as batalhas. Somos desbocados, às vezes até mal-criados, mas somos todos pessoas de bem. Todos têm diploma de curso superior, dois são pós-graduados, um tem mestrado, outro, doutorado. Os que têm filhos são bons pais. Ponto pra ela.

Como toda mãe, a velhinha vira bicho quando o assunto é defender a cria. Há muitos e muitos e mais alguns anos, meu irmão, um garoto grande para os seus três anos de idade, tinha bronquite asmática. Numa crise brava, ela, mulher miudinha, pegou-o no colo e correu para o hospital. De ônibus. Passando pelo corredor, acabou batendo o pezinho dele num sujeito que estava sentado. Ele reclamou:

- Também! Não sei por que tem que carregar esse bebê-boi, no colo. Bota esse moleque pra andar!

Pra quê? A dona loba passou o resto da viagem dando lição de moral ao grosseirão. E angariou apoios maternos no ônibus inteiro. Por pouco alguma das senhoras presentes não deu um belo puxão de orelha no infeliz.

E quando eu tive pneumonia? Isso já foi em Brasília. Chegando ao hospital de base, comigo no colo, a recepcionista tentou barrá-la, pois o médico estava atendendo. Ela, leoa, rugiu e avançou consultório adentro, pediu licença ao paciente que estava sendo atendido, me colocou sobre a maca:

- Doutor, minha filha está morrendo!

Se estava mesmo e fui salva ou se era apenas excesso de zelo materno eu não sei, mas, graças ao rompante dela fui atendida e estou aqui, aporrinhando vocês com essas histórias.

Também graças a ela, pulei a primeira série do primeiro grau. Ela encasquetou que eu já sabia tudo o que iria aprender no ano. Coruja, alugou tanto o ouvido das coordenadoras da escolinha que me deixaram fazer uma prova. E, não é que eu passei?

Recente, a construtora que contratamos para levantar nossa tão sonhada casa faliu, no meio da obra, deixando-nos com um pequeno apartamento de prejuízo e um enorme esqueleto de concreto para transformar em habitat. Acorremos ao BQM (Banco da Querida Mamãezinha) e hoje somos os felizes proprietários desse delicioso refúgio.

A Super-vó ajudou meu irmão a criar os filhos quando ele se separou. A super-tia dá a maior força para meus primos. A super-irmã faz tudo pelo meu tio Zé.

Essa é minha mãe. Só mais uma mãe, especial por ser a minha, mas provavelmente, tão igual a tantas outras que há por aí.

Tantas histórias, tantas coisas fez por nós e tantas já aprontamos com ela, que seu cantinho, certamente, já está reservado no céu.

Na verdade, acho que para ter um cantinho reservado no céu, basta mesmo ser mãe. Não uma mãe qualquer, mas uma MÃE como ela é.

Beijo grande para você, mãezinha, e pra todas as outras corajosas que tomaram para si essa linda missão.