As Más-Turba-Ações - Berenice Heringer

"Depressão é raiva sufocada". (psicólogo na TV)

Um dos anúncios mais criativos que já vi é aquele do macaquinho pendurado no cipó, falando ao celular, todo lépido e fagueiro até bater de cara numa árvore. Estatelar-se e despencar...Um sagüi ao celular pagando mico.

O aparelho de telefonia móvel é o objeto de desejo de todos. Há mais usuários do que habitantes. Portanto, alguns têm mais de um. Consumista ou consumidor? Creio que é consumista, apesar de não comer, literalmente, o aparelho. Consumo é mais associado com ingestão, deglutição, sumiço. Um sumiço que não some, porque se trata de um lixão eletrônico, mais ameaçador do que a cadeira elétrica no corredor da morte. O consumi-dor é o idoso enterrado em dívidas por ter caído no consignado, uma manobra do bmg assessorado pelo cérebro maquiavélico do marcovalérioduto em BH. Também nas filas dos bancos e lotéricas, nos pronto-atendimentos demorados, tudo com muita dor e cansaço.

Quem vive sempre com o instrumento à mão, seguindo o preceito de que o portátil é móvel, está com aquilo na mão e a mão naquilo. Antes, tal situação resultava em advertência nos cinemas. A nova modalidade de masturbação. O fetiche sempre disponível. Em BH há um político cujo slogan de campanha é: JPR Pega e Faz". Bem prático e manual, pois o P do nome é pinto. The new orelha do Dumbo. Mas a pata é a do camelo, eleita atualmente, como num filme de Nicolas Cage cujo personagem tem uma filha adolescente gordinha que usa calças de cós baixo, muito apertadinhas. Os colegas diziam que o desenho da piriquita à frente era "pata de camelo". Esse animal ungulado tem cascos fendidos. Analogia bem cruel, como só os jovens são capazes de fazer. Os judeus não ingerem carne desses animais.

Meu netinho (oi, Luiz Guilherme, beijos!) mesmo antes dos cinco anos já sabia como se auto-estimular. Freud afirma que os humanos são auto-erógenos, têm à mão toda a superfície corporal para se proporcionar prazer. Proibir a auto-estimulação é impossível, mesmo sob ameaças. O uso do celular pré ou pós pago não fica barato. É hoje a maior mina de lucros para as concessionárias. Quando vejo pessoas falando em voz alta no ônibus, correio, bancos, lojas, parecem todas excitadas e meio fora-de-si. Estão invadindo a nossa privacidade auditiva com as tais conversas-barbante: enrola, desenrola, embola, perde o fio da meada... Na roça as crianças brincavam de telefone com duas latinhas furadas na tampa e no fundo e um barbante comprido. Cada qual com seu receptor/falador, um exercício de criatividade e desenvolvimento da capacidade oral. Hoje as brincadeirinhas são onerosas.

Nos presídios de seguraça máxima, que os Cassetas dizem "lotação máxima", os poderosos chefões dos pccs, comandos vermelhos, marcolas, beira-mares, abadias, alemães, a corja toda, muitas pernas, mãos, falas & falcatruas e golpes que o longo braço da lei não alcança, mesmo estando eles já trancafiados. E os apetrechos envoltos em camisas-de-vênus (isto não se usa mais, por ser um acinte) inseridos nas partes íntimas das mulheres de bandidos. Nas visitas, não se levam mais os bolos, que o guarda partia ao meio para ver se havia dentro uma serrinha de cortar barras de ferro. Será que elas, essas meratrizes, deixam um cordãozinho de fora, como no OB, para a proverbial des-inserção dos aparelhos dos condutos, chamados antes de canais-do-parto? Esse mundo modernoso é uma baixaria só. Por isso é que o buraco é sempre mais embaixo. Que coisa horrivel deve ser dar à luz um celular extraído a fórceps por um carcereiro shrek! A mulher- melancia vai dançar o créu sozinha, elazona. E foi despejada da casa onde não pagava aluguel há mais de sete anos. Tudo televisionado. Continua sacudindo-se toda...Toucinho humano não serve para torresmo, nem para sabão. Mas causa indigestão e diarréia em bobos e desavisados. Vila Velha, 7/maio/08

Berenice Heringer
Enviado por Berenice Heringer em 08/05/2008
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