Terrores de infância: Papai Noel

Pergunte a uma criança o que é um Papai Noel. Certamente virão de sua ingênua boquinha as características: velhinho, barbudo, gordo, bonzinho, amoroso e por aí vai. Acrescento aqui acomodado e sedentário, embora eu ache que crianças não usariam esse vocabulário. O velho também parece ter uma paciência de jó, afinal crianças exigem mesmo um grande saco! Mas enfim, não vamos entrar no mérito da questão.

Crianças são, geralmente, materialistas e interesseiras. Na verdade, se aproximam do homem do saco de presentes só para faturar novos brinquedos. Altamente consumistas! Depois reclamam dos adultos, mas o consumismo vem de infância. Somos capazes de fazer absurdos por um objeto altamente desejado. Que atire a primeira pedra quem nunca quis tanto alguma coisa que chegou a fazer loucurinhas e, até mesmo, maldadezinhas.

Mas por mais que eu desejasse a sala de jantar da Barbie, o Banco Imobiliário pra gente grande, e não o Junior, como eu tinha, roupinhas e sapatos novos para a minha Xuxa e para a Paquita que sempre usava aquele uniforme, coitada, Papai Noel era motivo para pânico e eu saía correndo para qualquer lugar que parecesse inacessível para aquela criatura altamente perigosa.

Quando eu estava na creche, com pouco mais de um ano de idade, a minha querida mãe teve a idéia brilhante (como todas as outras mães) de me colocar no colo de um ser todo vermelho que usava uma máscara assustadora. E ele nem era tão gordo. Somente os olhos daquela criatura se mexiam, o resto da face era estático, parecia usar maquiagem carregada e não movia nem a boca! Pronto. O sonho da minha mãe se foi por água abaixo, pois eu desatei a chorar desesperadamente. Claro que a fotografia, já que a ocasião é sempre para fotos, não saiu lá essas coisas. Dava pra ver mais a minha garganta devido aos berros do que qualquer sorriso de felicidade pelo lindo momento. Foi aí que o trauma se instaurou para o resto da minha vida.

Eis que um pouco mais velha, dia de natal, família reunida, todas as crianças felizes, brincando pelo pátio, surge novamente essa figura para me causar pavor. Nesse dia, era o meu vizinho gordo que se prestava a tal papel. “Vamos alegrar as crianças!” deve ter pensado ele, cheio de boas intenções. Eu brincava alegremente com meus parentes e amigos, até que surge aquela figura, do nada, simplesmente vem caminhando em nossa direção. Sorte que eu era muito rápida, muito boa de corrida, saí em disparada até cair estatelada no concreto do pátio, na frente de um monte de gente que não entendia o porquê de uma criança estar fugindo do Papai Noel. Não pode ser uma criança normal, afinal, todas amam o "bom" velhinho.

Preciso confessar que esses dois acontecimentos de infância, até hoje me fazem passar longe da poltrona do idoso sedentário quando vou aos shoppings em época de Natal. Enquanto não tenho filhos, vou driblando a minha desconfiança para com o Papai Noel, e só me resta torcer para que meus futuros filhos não tenham interesse por essa figura perigosa. E se tiverem, faço questão de deixar esse momento tão especial que é tirar foto com o gorducho, para o pai deles.

Raquel Corrêa
Enviado por Raquel Corrêa em 08/05/2008
Reeditado em 08/05/2008
Código do texto: T980404
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