RADINHO DE PILHA .
Hoje quero homenagear um dos meus mais fiéis amigos. Falo do meu inseparável radinho de pilha. Nem todo mundo dá o merecido valor ao seu radinho. Aliás, nem todo mundo tem um radinho de pilha. Quem não tem não sabe o que está perdendo.
Costumo dizer que meu amigo não tem defeitos, tem fraquezas e uma delas é que as vezes ele perde a força. Como não chega a ser um grande problema, é só trocar as pilhas.
Em compensação, tem uma grande vantagem, é completamente surdo. Isto é ótimo, se considerarmos a enorme quantidade de tolices, bobagens e asneiras que falamos e repetimos diariamente.
Por outro lado ele fala muito, ou melhor, se deixar fica o dia inteiro repetindo o que os outros falam e cantam. É bem verdade que ele só fala depois que eu ligo o botão. Também é verdade que ele só repete coisas que eu quero ouvir, o que sem dúvida é muito bom pois se eu não estiver gostando, é só desligar e colocar meu companheiro para repousar (seria interessantíssimo se num casamento, marido e mulher também tivessem um botão que permitisse que ambos ficassem desligados naquelas ocasiões em que silêncio seria o melhor remédio).
Meu radinho me acompanha a quase todos os lugares o que, por exemplo, não posso dizer da minha mulher . Talvez vocês não acreditem mas certa vez, por engano ele entrou num banheiro feminino.
O que é estranho é que as mulheres que estavam lá dentro não reclamaram e até me fizeram a gentileza de, com todo o cuidado devolverem meu companheiro , que veio impregnado com uma deliciosa mistura de cheiro de sabonete de limão com perfume da Avon. Infelizmente, ele não me contou o que aconteceu ou o que ele viu naquele banheiro.
Para falar a verdade tenho sido um amigo ingrato. Por exemplo, não me lembro quando e nem onde foi que o comprei, o que significa dizer que não posso nem pensar em comemorar seu aniversário.
Também das minhas mãos ele caiu algumas vezes e um pedaço de fita crepe disfarça uma pequena rachadura que ele tem de lado. O bom é que ele não reclama, não resmunga e não me cobra nada (seria ótimo se as esposas fossem assim).
Certa vez eu, minha câmera fotográfica, o radinho e a família fomos à praia. Depois de molhar os tornozelos, encher os bolsos da bermuda de areia e tomar uma latinha de coca-cola morna, resolvemos comer um peixe na brasa num restaurante à beira mar. Seria ótimo se o lugar não estivesse lotado o que nos obrigou a comer o tal peixe numa mesa num varandão que contornava o restaurante.
O peixe estava uma delícia, desta vez tomei um refrigerante bem gelado, a paisagem era realmente paradisíaca e com tudo isso, me distraí e depois de pagar a conta saímos e já no carro me lembrei do radinho.
Minha mulher achou que não valia à pena voltar só por causa de um radinho velho, mas, meu coração falou mais forte e voltei ao restaurante para resgatar meu amigo. E foi mesmo uma operação resgate. Tão logo saímos um casal e duas crianças ocuparam nossos lugares, sendo que quando me aproximei as duas crianças brigavam pela posse do rádio.
Expliquei ao pai daqueles diabinhos que o radio era meu e que tinha acabado de esquecê-lo em cima da mesa. O homem foi muito gentil e com uma espécie de sorriso de deboche me deu autorização para pegar o aparelho das mãos de um dos garotos.
Como ordens são ordens, peguei meu velho amigo e fui saindo de fininho ao som da estridente e escandalosa pirraça das crianças que não se conformavam em ter que devolver meu velho companheiro.
Minha sorte é que meu amigo, além de não reclamar, resmungar e não me cobrar nada também é surdo e não se importou quando minha mulher comentou que aquele radio já estava velho, fanhoso e feio e portanto no dia seguinte faria uma visita a uma dessas lojas que vivem fazendo liquidações para me comprar um aparelho novo.
Como não sou ingrato e sempre serei fiel aos meus amigos, sugeri que no lugar de um rádio novo ela me desse um barbeador de presente....
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(.....imagem google.....)