A LUA GRÁVIDA
Qual é a sua primeira lembrança da vida? A barba do papai Noel caindo e você descobrindo a identidade secreta do seu pai? Sua mãe tirando do forno um bolo de chocolate cheiroso e quentinho? Crianças brincando na rua?
A minha primeira memória dessa vida é a lua grávida.
Era uma noite de verão sem nuvens. O clima quente combinava com sorvete e minha família estava passando o Domingo no Parque Píton Farias em Brasília. Foi lá que me dei conta que era gente; foi vendo a lua que despertei para a vida.
Estranho, o alcance da nossa memória. Até onde naturalmente conseguimos recordar nossas experiências? Conheço pessoas que se lembram dos tempos em que engatinhavam; outros juram de pé junto, que se lembram da época em que o mundo tinha o tamanho e o formato de um útero, e com essa onda de regressão, tem gente até lembrando que era a Carlota Joaquina ou Dom Sebastião. Eu só me lembro da lua gigante e cheia no céu. A partir desse primeiro luar, percebi que era menino; que meu pai era tão grande quanto os pinheiros do parque, que meu irmão era um pentelho e que minha mãe estava tão cheia quanto à lua. Desse momento em diante, meu mundo se tornou cronológico: ano por ano, fui começando a contar idade e experiência.
Dias depois vi a lua de novo, mas ela estava magrinha, pela metade. Corri pro meu pai e perguntei o que houve com ela. Ele olhou a lua pela janela, suspirou e respondeu:
- A lua estava grávida igualzinho a sua mãe, filho; e o bebê virou luz!
Frank Oliveira
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