Solidão
SOLIDÃO
A palavra solidão dá a impressão de vazio, ausência e, no entanto, ocupa um espaço infinitamente grande. No conceito do dicionário: “Estado de quem se acha ou vive só”, porém a pior solidão é a acompanhada de uma multidão. Chego à conclusão que não é no exterior que ela existe, mas no âmago de cada um. A sua existência não é detectada por uma ultra-sonografia ou exame de sangue, mas, como um tumor, machuca e, por vezes cresce até se tornar insuportável.
De nada adianta se a pessoa é casada, se tem filhos ou se ainda mora com os pais. Independe da condição social ou intelectual, estado físico saudável ou doentio; se é desportista, atleta, ou sedentário; trabalhador ou aposentado.
A sua chegada torna a pessoa melancólica e arredia. Se era um companheiro de farra, a noitada acontecerá sem ele que, a cada dia, se fará mais ausente do seu grupo. A necessidade de trabalhar o levará ao emprego, mas será um colega taciturno e de difícil diálogo.
A solidão é um monstro que corrói as entranhas e consome as noites em longas e penosas insônias. Aparentemente mais perigosa que o câncer, que ainda oferece algumas alternativas e tratamentos para muitos casos, não se conhece a terapia para tal coisa. Qual seria o diagnóstico e a posologia do medicamento?
No meu entender a solidão está ligada à falta de filosofia e religião de cada um. Dificilmente uma pessoa que pratica a espiritualidade ou medita sobre os comportamentos humanos, deixará que ela se instale. Porque, a solidão é um processo e não um acidente. Ela chega sorrateiramente, sem dar sinais evidentes e, um belo dia, nos damos conta que somos solitários e os antigos companheiros e amigos de brincadeiras, estão distantes e desconfiados. Pior ainda, nem os queremos por perto. Há um certo masoquismo em se comprazer, de alguma forma, com a solidão. Não desejo mais trocar figurinhas ou fazer um paralelo, com outra pessoa, da minha angústia.
Provavelmente, junto com o sofrimento de se sentir numa ilha deserta, a química do nosso organismo também se modificou e, para isso, existe medicação: anti-depressivos e tranqüilizantes. Mas seria o suficiente?
Não. Sozinhos, não vamos longe. E, se nos isolamos dos conhecidos, a quem recorrer nessa hora? A Deus. Ele é o único que pode ir à raiz do mal, tocá-lo e, como nos milagres do tempo de Jesus na terra, abrir as janelas deste coração trancado, e deixar o sol entrar. Espanar as teias de aranha das paredes e limpar o mofo da solidão. Um perfume exótico e suave desperta meus sentidos e abro os olhos. Pergunto-me onde estive, e é como se despertasse de um profundo sono anestesiante. Percorro o cenário ao meu redor, com um olhar curioso. A curiosidade é a primeira coisa que morre quando a solidão se instala. Ela é a alavanca que me desperta do torpor e me traz à vida. Me torna ativo e consciente do mundo. Estou vivo e ainda existem pessoas nesse planeta, para me fazerem companhia e até, serem solidários na solidão.
Rio de Janeiro, 6 de maio de 2008