Páginas da Vida
Páginas da Vida foi um filme a que assisti, ai por volta de 1952, no Cine Voga (depois Cine Jequitibá, em Campinas). A história dividia-se em três partes. Na primeira parte, que era passada em Nova York, o ator principal era o famoso Charles Laughton. Ele representava um velho sem família, e que já tinha vivido dias melhores. Agora ele morava em um quarto junto com um jovem, também morador de rua, ambos viviam quase como indigentes.
O velho tinha sido um grande afinador de pianos e o moço fora pintor de paredes. Ambos, um com 70 anos e o outro com 35 anos, não viam naquele mundo que ambos haviam criado, esperanças para uma vida melhor.
Lendo num pedaço de jornal que a cidade de Nova York teria o inverno mais rigoroso dos últimos 30 anos, ficaram alarmados com a noticia e planejaram arranjar um meio de passar esse tempo na cadeia onde, segundo eles, teriam um teto e comida quente. Entretanto, teriam de ser detidos por vadiagem, visto as autoridades serem muito severas nessas situações.
Então planejaram um pequeno delito: ao ver um senhor bem vestido que estava olhando a vitrine de uma loja, o velho foi até lá e arrancou-lhe o guarda-chuva do braço. Imediatamente aquele senhor se virou e disse: “perdoe-me, senhor. Eu peguei este guarda-chuva, ali no café, por engano. Não sabia que era de vossa senhoria”. Assim, o plano do velho havia falhado.
O velho andou mais um pouco e tentou acertar um ponta-pé por trás de uma pessoa e caiu de costas. Então, o homem que seria agredido foi, prontamente, socorrê-lo e queria levá-lo ao pronto socorro, coisa que o velho não aceitou.
Fez outra tentativa para serem detidos. Tomaram um táxi na Avenida 49 e foram observando o movimento dessa famosa avenida, como se fossem dois príncipes em visita à cidade. O velho mandou que o motorista parasse e deixaram o veículo sem nada pagar, pois não tinham dinheiro. O chofer, um dos muitos italianos que trabalhavam em Nova York lhes disse, muito espantado: “Mamma Mia, vá com Dio”.
Ai o velho disse ao jovem: “O mundo não é tão ruim quanto nós pensávamos”. E resolveram voltar a trabalhar. O velho afinando pianos e o moço, como pintor de paredes, e tentar viver com dignidade.
Como ali perto havia uma igreja de São João, foram dar graças a Deus, e pedir forças para viverem uma vida normal. Quando estavam deixando a igreja, uma patrulha de policia passou por ali e os deteve por vadiagem, o que equivalia a 60 dias de detenção, com um teto e comida quente todos os dias.