Flores para Maria Fernandes Quadros
Edson Gonçalves Ferreira
Ela foi velada na Vila Vicentina, a nossa poetisa Maria Fernandes Quadros e eu, poeta também, seu amigo, em casa, acovardado pela emoção e pela dor, depois de chegar da faculdade, cansado de dar aulas, refugiei-me nas lembranças doces dos anos em que convivi com a sua doce pessoa, generosa amiga, e, principalmente, a poeta ingênua e bela como criança para quem, como disse Fernando Pessoa, “o mundo é uma eterna novidade”.
Se você, leitor e leitora, não conheceu Maria Fernandes Quadros, imagine uma senhora linda, jovial, encantada com a vida e com as palavras. Esse é um dos retratos de Maria Fernandes. Ela, como você e qualquer ser humano, era única. Sim, porque ninguém neste mundão de Deus é dispensável. Cada criatura é única e bela e singular. Assim, não posso conter a minha dor e, agora, de madrugada, enquanto ela repousa, choro, choro e choro.
Maria Fernandes Quadros via poesia em tudo e, assim, cada vez que criava algum texto, entrava em êxtase. Eu acredito, piamente, que poesia é aquilo que faz a gente arrepiar e, às vezes, saltitar de emoção. Sempre que escrevo, sou tomado pelo Espírito Santo e, como Elias, sou arrebatado no carro-de-fogo para os céus. Maria Fernandes também sentia isso. A palavra santificava-a.
Hoje, enquanto escrevo esta crônica, lembro-me também da Maria Fernandes Quadros, educadora, como diretora da Escola Estadual Padre Matias Lobato que, agora, está enlutada. Eu posso falar com a boca cheia do valor de um educador, porque, até hoje, faz décadas, que entro e saio das salas-de-aula. É prazeroso dar aulas, mas também é um sacerdócio que Maria exerceu e com propriedade tamanha! Infelizmente, nossos políticos não sabem reconhecer o valor da Educação!
Comentei com meus familiares e amigos que não fui ver Maria descansado na sua urna, porque guardarei dela a lembrança do olhar iluminado e, também, seu amor pela Academia Divinopolitana de Letras onde ela era só um sorriso rasgado e, quando falava, transpirava doçura.
Sim, Maria Fernandes Quadros não tinha vergonha de se encantar, de se emocionar com cada detalhe da vida. Afinal, a vida é tão adorável, tão adorável quer, às vezes, nós, preocupados com bobagens, não sabemos nos deliciar com as pequeninas e preciosas coisas. A poetisa e a educadora Maria Fernandes Quadros, não, ela se emocionava tanto com as coisas belas e com as palavras que, às vezes, eu tinha medo de ela ascender aos céus de tamanha felicidade e foi isso, amigos, que ela fez: foi arrebatada para o santuário do maior verbo: Deus onde, agora, deve estar sorrindo para todos nós, sorrindo tão docemente que sinto seu olhar cravando no meu coração saudoso.
Divinópolis, 2007