Mãe escuta cada uma ...

Ah, os filhos: tão amados e esperados... Um dia finalmente nascem com aquela indefectível carinha de joelho que só os pais acham linda. Tão inocentes e desprotegidos! Aí de repente crescem e passam a pensar por conta própria.

A caçula

A filha do meio está sem média em Português desde o início do ano. Como último recurso, a mãe apela para a política de conseqüências. A partir daquele dia ficam suspensas aulas de dança e desenho até que a nota saia do vermelho. A garota esperneia, argumenta, insiste. E a mãe firme. A menina de 8 anos, que escuta a discussão calada, contemporiza:

- É pra equilibrar, Ciça. Mamãe quer que você fique tão ruim em dança e desenho quanto você já é em Português...

Primeira reunião de pais da 3a. série. A professora pede que as crianças apresentem seus pais à turma. Chega a vez da menina, 9 anos:

- Minha mãe é médica, mas não tem consultório; é professora, mas não trabalha em escola; é policial, mas detesta violência...

E ali, na frente de todo mundo:

- Ô mãe, como é que você faz para ganhar dinheiro?

A empregada havia casado e a mãe ainda não encontrara substituta. Na manhã de sábado todos estão envolvidos na limpeza da casa. A tia telefona e convida a menina para ir ao clube. A mãe diz que só libera depois que terminar a tarefa. A menina, afiadíssima na escola:

- Ô tia, explica pra minha mãe que exploração do trabalho infantil é crime.

A do meio

Mãe e filha têm temperamento parecidíssimo e por isso às vezes se estranham. No quarto, a garota imita o jeito linha-dura da mãe, para deleite das irmãs. A mãe entra de repente para acabar com a farra:

- Está imitando quem, Ciça?

Todas param de rir imediatamente. E ela:

- Estou imitando a mim mesma, mãe. Quando eu for adulta...

A mãe sai, mas ainda a escuta dizer baixinho para as irmãs:

- O pior é que é verdade...

A família assiste ao jogo Atlético e Cruzeiro em um restaurante. A mãe tenta persuadir a adolescente, única torcedora alvinegra na casa de cruzeirenses, a mudar de time. No quarto gol do Cruzeiro a garota levanta, vai até a mesa de atleticanos, pergunta se pode assistir ao jogo com eles. E explica:

- É que minha mãe acha que sou a ovelha negra da família...

A mais velha

Ela está, há umas duas semanas, naquele banzo pelo fim do namoro. O amuo é agravado pela dedicação ao 3o. ano do Ensino Médio. Para levantar a auto-estima da garota, a mãe lista seus vários atributos: responsável, esforçada, educada, inteligente, justa... A família a admira tanto: é só querer que ela arranja um namorado. E ela, irônica:

- É, estou cheia de opções: posso namorar primo, tio ou algum amigo do papai. Garoto da minha idade não valoriza essas qualidades, não, mãe...

Numa das frequentes viagens a trabalho da mãe, a filha mais nova, que sempre se contunde nessas ausências, telefona:

- Ô mãe, acho que estou com traumatismo craniano...

A mãe, preocupada, pede para falar com a mais velha.

- Mimo agora mudou de nome... Traumatismo craniano! Só se foi na hora de tomar o sorvete: errou o alvo e bateu o cone na testa... Eu, hein, mãe?

Maria Paula Alvim
Enviado por Maria Paula Alvim em 05/05/2008
Código do texto: T976259
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